domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma boa surpresa no sábado à noite

Na tarde de ontem publiquei os fatos ocorridos no meu retorno de Porto Seguro e também cadastrei uma reclamação no site da CVC.

A boa surpresa foi uma ligação da gerência regional no sábado a noite para conversar sobre o fato ocorrido. O que demonstra inicialmente um interesse da CVC em não haver repetições desses problemas.

Aplaudo a iniciativa, pois tenho visto diversas empresas de renome não entrarem em contato com os seus clientes para retornarem reclamações. Parabéns a CVC pelo rápido retorno e interesse demonstrado.

Capítulo Vinte e Três

Belo Horizonte, Cidade Jardim

– Coloquei um anúncio nos principais jornais de cada estado.
– Ótimo. Agora só nos resta aguardar.
Vivian mexia as mãos nervosamente. Ler as anotações de Elvira só servia para deixa-la mais aflita. Sua mãe devia saber, porque nunca lhe contou? Não se sentia preparada para aquela situação. Uma coisa era desmanchar maldições para salvar estranhos, outra, era para salvar sangue do seu sangue.
– Quanto tempo temos? – Antônio lhe chamou para o mundo real.
– Não sei. Talvez mais uma semana. O livro não especifica data. Minha mãe que me disse que o prazo era dois de novembro.
– Dia de finados. Interessante.
– Também acho. Mas também é o dia do aniversário de Elvira. Apesar dos seus pais terem lhe registrado como nascida no dia quatro.
– Você está brincando?
– Não. Naquela época eles podiam fazer isso. Provavelmente ela deve ter nascido em casa, pelas mãos de alguma parteira. E claro que a herdeira de uma tradicional família mineira não teria como data de nascimento o dia de finados.
– Mas na verdade, temos três semanas.
– Temos que ter um tempo extra. Não sabemos o que pode acontecer nesse dia. Quanto mais cedo desmanchar tudo isso, melhor.
– Tem uma coisa que eu não entendo... o dia é o do aniversário dela, mas por que esse ano?
– Não existe uma definição de ano, o que diz no livro... espera um pouquinho. – Vivian foi até o quarto e retornou com o livro de capa preta na mão. Colocou os óculos de leitura e abriu a contracapa – Aqui está “Quando todos os herdeiros tiverem nascido, o ano será bissexto e os escolhidos encontraram o símbolo de minha salvação.”.
– O que isso significa?
– Significa que todos os bastardos já nasceram. As famílias estão fechadas, podemos assim dizer.
– O símbolo?
– O símbolo só pode ser a maldita pedra. A mesma que ela utilizou para tentar acabar com Irina. De alguma forma, essa pedra deve ter parado na mão dos herdeiros de sua meia-irmã.
– Mas você também é sua parenta? Não deveria ter a pedra também?
– Não. Ela sabia que eu estaria aqui. A culpa foi da minha avó, em dar a luz a uma bastarda e ensinar a magia. Se madame Elvira nunca tivesse visto o livro amarelo, nada disso teria acontecido.
– Ninguém teria morrido. Pelo menos não da forma como conhecemos.
– E ela mesma teria sido feliz. Duvido que Carlos tivesse se casado com a tia. Madame Elvira encontrou a própria desgraça, mas não aprendeu com isso. Sua loucura nos persegue mesmo após a morte.
– Nossa. Seus filhos podem ser afetados?
– Não. Graças a Deus. Meu marido não imagina do que a sua caxumba recolhida nos salvou. Como as crianças são adotadas, elas não possuem o meu sangue. Estão livres da maldição de madame Elvira.
– Você vai contar isso a eles?
– Não. Eles não sabem que a minha família mexia com esse tipo de coisa. Gabriela, como cientista, ficaria horrorizada.
– Sei que parece covardia. Mas será que posso ser afetado?
– Não. Você não pode. Sua mãe era filha de um empregado da casa. Esse sangue maldito não corre em suas veias.
– Desculpe. – O rosto de Antônio apresentava uma leve vermelhidão nas bochechas.
– Não fique envergonhado. Eu também sinto medo. Não quero morrer agora, tenho muita coisa para fazer ainda. – Por um momento, Vivian sorriu, com a imagem dos seus filhos surgindo em sua mente. – Quero ver os meus netos nascerem, correrem pela casa. Ver o casamento da minha filha, ter uma terceira, quarta, quinta lua-de-mel com meu marido.
– E você vai fazer tudo isso, Vivian.
– Espero que sim, espero que sim...
– Você não quer me apresentar a cidade... enquanto aguardamos os herdeiros?
– Claro. Até por que, um pouco de distração só pode nos fazer bem. Não podemos esquecer de comer pão de queijo.
– Com certeza. Vou lá pegar o carro.

Vivian foi buscar um casaco e guardar o livro. Após coloca-lo em uma gaveta, abriu sua bolsa e pegou a carteira, ficou um tempo olhando a foto de sua família e rezou.
– Vamos Vivian!
– Estou indo. – colocou o casaco e murmurou – Mãe, permita que eu veja os meus filhos mais uma vez.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Com a CVC a oitava noite é no aeroporto

Depois de sete dias conhecendo as belas paisagens de Porto Seguro, eu já imaginava os textos que ira escrever sobre cada lugar, pontos positivos, negativos e sensações. Mas cá estou, rascunhando em papel, às 7hs da manhã no horário local (8hs no horário de Brasília) em pleno dia 28 de janeiro de 2011.

Me sinto cansada, suja, jogada as traças. O fato de saber que não sou a única não me conforta, e estar cercada por todos os passageiros do voo 9367 da TAM, que deveria ter decolado a 1h45 da manhã, não serve de consolo.

Chegamos a meia-noite, como o aeroporto não possui estrutura nenhuma (conforme ouvimos, ele é uma antiga rodoviária), não havia lugar para todos. Como no check-in nos avisaram que 1h05 iriam anunciar o portão de embarque, alguns aguardaram em pé e outros nas escadas.

Quando o atraso se concretizou, fomos atrás dos guias da CVC, um disse que o avião estava com a chegada atrasada e havia mudado de número, sendo agora 9366 (na verdade esse é o número quando a viagem é de Porto Alegre a Porto Seguro, o voo nunca mudou), outra havia dito que o avião só iria chegar entre 3 e 4 horas da manhã e que os ônibus haviam sido disponibilizados para descanso (o detalhe é que ela só avisou aos passageiros que ela conhecia). Quando perguntado o que aconteceria se o avião não chegasse neste período ela simplesmente deu os ombros e disse que isso era problema da TAM (esquecendo que a responsável pela contratação da companhia aérea era a empresa que ela representava – neste caso, a CVC).

Fomos todos dormir dentro do ônibus, ali pelas 3hs da manhã um guia nos avisou que o avião havia chegado e em 10 minutos começaria o embarque. Começou a correria, mas na fila da sala de embarque as passagens e os documentos eram olhados lentamente. Quando todos estavam na apertada sala de embarque dos portões 1 e 2 veio a notícia: o aeroporto estava com o balizamento desligado e o avião estava indo para Salvador por não ter muito combustível.
Enquanto as crianças dormiam no chão, desculpas esfarrapadas eram dadas de tempos em tempos, a equipe da CVC evaporou, sua loja está às escuras e os ônibus desapareceram. O sol está presente desde as 5 horas da manhã, mas nada do avião retornar. As malas estão no sol, o sentimento de desrespeito toma todo o ambiente. A sala de embarque é nossa e os funcionários do raio x quase surtam com o nosso entra e sai constante. Os banheiros estão imundos e tudo o que queremos é ir pra casa.

Embarcamos meia hora depois de eu escrever este texto. O atraso inicial (que não consta no papel entregue pela TAM), foi um vazamento no banheiro da aeronave, conforme informação do comandante, e só depois a questão da iluminação influenciou (lembrando que durante a nossa chegada ao aeroporto aviões ainda chegavam e partiam).

Creio que quase todos dormiram na volta, a chegada, depois das 11hs da manhã, recebeu atrasos, a equipe agradeceu a preferência, mas sinto informar a TAM que voar com ela não foi uma questão de escolha minha e sim da agência que nos deixou jogados no aeroporto.

Ainda tivemos demora no recebimento das malas, no caso das minhas, com danos que não observei na hora, devido tamanho cansaço.

Novas viagens virão, mas com certeza vou verificar outras agências, pois a CVC perdeu qualquer diferencial comigo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Clientes x construtoras

Em 2009 comprei um imóvel na planta da construtora Goldsztein que deveria ter ficado pronto em outubro de 2010. Deveria. Por que agora a data foi alterada para abril/2011. É claro que os queridos continuaram reajustando o saldo devedor pelo INCC, mas passado os 60 dias de prazo máximo para atrasos, onde está a multa?
Ao ligar para a construtora, é uma enrolação só. Não conseguirmos acompanhar os reajustes por que os dados repassados para a página de acesso sempre retornam usuário e senha inválidos e a multa, a atendente diz que é com o pessoal do jurídico, mas não nos repassa para quem tem que nos dar a resposta.
Naturalmente, se não tivéssemos pago alguma das parcelas, eles teriam encontrado o nosso telefone com a maior facilidade e todos os setores teriam nos ameaçado, mas como fizemos tudo direitinho, e são eles que estão em dívida, somem.
Com isso fica o medo de estarmos nos deparando com uma nova Encol e as dúvidas de que ação tomar, pois um processo e a busca por um novo apartamento irão nos gerar um desgaste e incômodos que não eram previstos.
O brabo é que eu sei que ela não é a única. Tem construtora entregando apartamento com mais de um ano de atraso e com rachaduras e outras que nem iniciaram as obras e obrigam os seus clientes a anteciparem os seus financiamentos (deixando os mesmos com duas parcelas).
A única coisa que eu sei é que no momento eu não indico a Goldsztein para ninguém. Vamos ver as cenas dos próximos capítulos.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Literatura Amores e Horrores: Os cinco mais consultados da semana

1) Brida http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/07/brida-paulo-coelho.html (2 semana)
2) O Ladrão de Arte http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/03/o-ladrao-de-arte.html (2 semana)
3) Mãos de Cavalo http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2008/12/mos-de-cavalo.html (2 semana)
4) História do Cerco de Lisboa http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2010/04/historia-do-cerco-de-lisboa.html (2 semana)
5) O Amor Esquece de Começar http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/01/o-amor-esquece-de-comear.html (2 semana)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Capítulo Vinte e Dois

São Paulo, Morumbi

– Certo. Em três horas? Ótimo. Dois lugares então. – João tirou o fone do ouvido e olhou para Doca – Abra o meu guarda-roupa, a porta do meio, e pegue uma pequena mala. Coloque suas coisas nela. – Discou um novo número – Oi. Preciso de um táxi. O endereço é...
Doca correu até o quarto. Achou uma mala preta que colocou no chão e abriu.
– Ótimo. Não tem nada. – correu até a sala puxando a mala pelas rodas até a poltrona onde estavam as suas coisas.
– Temos vinte minutos Doca. A recepção irá avisar quando o táxi chegar.
O tempo passou voando e uma hora e meia depois, estavam no saguão do aeroporto correndo até o balcão da companhia. Doca só ouvia João falar com a moça de uniforme com o cabelo preso no alto da cabeça. Foi só quando entraram na aeronave é que ele se deu conta: iria viajar de avião.
– João?
– Sim. – João olhava o relógio e calculava o tempo de chegada.
– É realmente seguro?
– O que é seguro?
– Viajar de avião?
– Mais seguro do que ficar no meio de uma BR à noite. – João brincou.
– Fala sério.
– Eu também – e escabelando os cabelos de Doca – você vai adorar.
Doca ouviu o aviso de apertarem os cintos. Sentiu a pressão empurrar o seu corpo contra a poltrona quando o avião levantou vôo, e prendeu a respiração ao ver tão de perto na sua janela. Criando coragem, soltou o cinto e colocou o rosto perto do vidro. Naquele momento, esqueceu tudo ao ver pela janela a cidade pequena, como se fosse um formigueiro.
João interrompeu Doca quando as aeromoças serviram o lanche, e quanto elas retornaram para recolher as bandejas, um novo aviso para apertarem os cintos foi ouvido.
Chegaram no aeroporto Afonso Pena. Seguindo o fluxo até a porta de saída e encontraram o ponto de táxi.
– Boa noite. Rua Agamenon Magalhães, por favor.
– Claro, senhor.
– Aqui é Curitiba? – Doca olhava as ruas e pensou que Curitiba deveria ser muito pequena.
– Não, rapaz – o taxista riu – aqui é São José dos Pinhais. Logo, logo entramos em Curitiba.

João conferiu o número e olhou o nome do condomínio: “Ilhas Gregas”. Pagou a corrida e pegou as malas.
– E agora?
– Agora vamos rezar para que ela ainda viva aqui e nos receba. – João caminhou até a portaria, onde um homem de meia-idade assistia o jornal local em uma pequena televisão.
– Boa noite. Gostaria de falar com a senhora Odete Etzufp.
– Boa noite. Qual o seu nome?
– João. João Galdos.
– Só um momento. – o homem colocou um fone no ouvido e apertou um botão em um painel – Boa noite senhora Odete. Um senhor chamado João – como é mesmo o seu sobrenome?
– Galdos.
– Um senhor chamado João Galdos está aqui para falar com a senhora. Certo, obrigada senhora Odete. – O homem devolveu o fone e apertou um botão. – Vocês podem subir. É nesse primeiro edifício, o Santorini. Apartamento 1303.
O portão se abriu, João e Doca entraram e se dirigiram até o primeiro prédio. Um outro porteiro se encontrava ali.
– Boa noite. Em que apartamento vocês vão?
– No 1303, da senhora Odete.
– Certo.Sigam pelo corredor e peguem o outro elevador. Vocês irão sair na frente do apartamento. É no décimo terceiro andar.
– Obrigada. – João agradeceu e os dois seguiram pelo corredor. Encontraram uma pequena sala com sofás de espera. O elevador encontrava-se no térreo e João abriu a porta para Doca entrar. Ao fechar a porta, apertou o botão com o número treze sinalizado e aguardou. Quando o elevador parou, abriram a porta e a luz já estava acessa, assim como a porta do apartamento. João viu uma senhora parada lhe olhando e notou o seu sorriso ao ver Doca sair.
– Sejam bem-vindos.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Primeiros passos

Quando resolvi no mês passado que iria fazer uma cerimônia completa de casamento, minha primeira ação foi procurar uma pessoa para organizar tudo, pois já havia dado o maior sufoco para a minha mãe na formatura. Em 2009, quando havíamos pensado em fazer uma coisa bem simples eu já havia conversado com uma e já tinha uma idéia do que essa pessoa tinha que fazer, mas tínhamos outras prioridades e o orçamento total de uma cerimônia literalmente nos vez rejeitar a idéia e ficar só no juntar as escovas.
Mas como já dizia uma antiga propaganda, o tempo passa, o tempo voa, muita coisa aconteceu e nós resolvemos nos dar uma festa. Com a indicação da minha mãe, chegamos na Cristina, que agora é oficialmente o nosso anjo da guarda para esse momento tão especial.
Depois de sofrer para fazer uma lista de convidados reduzida (pois para fazer bem feito não vamos poder convidar todo mundo que conhecemos), vamos para um dos itens mais importantes para assegurar a data que desejamos (que é louca de especial, já que será no dia em que comemoramos o nosso aniversário de namoro): procurar um local que atenda as nossas expectativas.
Amanhã as visitas começam e o momento começa a tomar forma, boa sorte para nós.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Besteiras do meio-dia

Estou ansiosa. Terrivelmente ansiosa. Talvez por 2011 ser o ano de tantas coisas terem que acontecer, mas o desenrolar me parece tão lento. Ao mesmo tempo olho o calendário e vejo que já estamos praticamente no mês de janeiro e nada foi definitivamente providenciado.

De que raios estou falando: do apartamento que teve a entrega atrasada, do casamento que não tem nada reservado, das milhares de coisa que preciso fazer. Do fato de ter economizado bastante e não ter ficado rica (chegando a conclusão que está certo quem aproveita o dinheiro e não deixa a vida passar).

Sinto que os 33 trazem estranhas mudanças em mim, e isso me deixa ainda mais ansiosa, mas isso não me faz atacar uma barra de chocolate, pelo contrário, chego a ter repulsa só de pensar (eu não disse que estão ocorrendo estranhas mudanças em mim?).

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Literatura Amores e Horrores: Os cinco mais consultados da semana

Tendo como inspiração o CQC, resolvi adotar em 2011 os 5 livros mais visitados no Literatura Amores e Horrores.
Vou tentar todas as segundas (exceto nas minhas férias) o que o pessoal que circulou no site andou lendo.

Os cinco mais visitados na semana (02/01/2011 a 08/01/2011)

1) Brida http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/07/brida-paulo-coelho.html
2) Mãos de Cavalo http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2008/12/mos-de-cavalo.html 3) O Ladrão de Arte http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/03/o-ladrao-de-arte.html
4) O Amor Esquece de Começar http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2009/01/o-amor-esquece-de-comear.html
5) História do Cerco de Lisboahttp://literamandoliteraturando.blogspot.com/2010/04/historia-do-cerco-de-lisboa.html

Empatados em número de visitas (o critério de desempate é o último visitado), que podem aparecer na próxima semana estão O Home Comum e o Esplendor Secreto.

A surpresa foi Mãos de Cavalo, campeão absoluto de consultas em 2010, está perdendo terreno em 2011.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Capítulo Vinte e Um

Curitiba, Cristo Rei

– Como você sabia, Clarissa? – Soraya analisava a pedra, era realmente a mesma.
– Porque ela sempre volta. – de cabeça baixa, pegou o controle e desligou a televisão – Ontem eu tinha levado ela sem pedir emprestado para você, Lúcia. Achei que ficaria bem na mesa da presidência, no evento que vamos fazer na Ópera de Arame. Mas enquanto esperava, alguém me empurrou e eu fiquei pendurada na grade... e a pedra caiu no lago.
– Caiu em um lago? – Lúcia arregalou os olhos – Mas ela...
– Ela estava de volta. Cheguei em casa sem saber como te dizer que havia perdido a pedra, e quando entrei no teu quarto, lá estava ela, em sua mão.
– Essa pedra é mágica? – Soraya estendeu a mão, queria ver a pedra mais de perto.
– Não toque nela. – Clarissa segurou a mão de Soraya – esse é um fardo da Lúcia.
– Como assim, um fardo meu? Vocês me deram de presente.
– Não achamos por acaso. Ela estava predestinada a você. Mas acho que Odete pode te explicar melhor.
– Odete?
– Sim. – Clarissa fechou os olhos. – Soraya termine de se vestir. Nós três iremos visitar Odete.

– Boa noite, meninas. O que houve?
– Aconteceu de novo, Odete. – Clarissa foi direta.
– De novo? – O rosto de Odete ficou sério, fazendo com que ela abrisse toda a porta. – Vamos, entrem. Não fiquem ai paradas no corredor.
Todas entraram, Clarissa e Soraya sentaram-se no sofá maior, Lúcia foi até a janela e ficou observando o movimento na avenida.
– O que houve agora? – Odete perguntou olhando diretamente para Clarissa.
– Lúcia emprestou a pedra para o filho de uma colega. O menino agora está em um hospital e a mãe ligou dizendo que haviam perdido a dita cuja.
– Mas?
– Mas ela estava no meu quarto. – Lúcia mostrou a pedra.
– Ai está ela. Deixe-me coloca-la na luz. – Lúcia entregou a pedra para Odete que colocou contra a luz – aqui estão eles... os reflexos amarelos e rosas que Irina tanto falava.
– Irina...o mesmo nome da minha bisavó.
– Seu avô se chamava Sílvio e foi casado com uma empregada?
– Sim.
– Então é a mesma Irina.
– Você conheceu a minha bisavó?
– Sim. Sente-se Lúcia, a história é longa. – com um suspiro, Odete também se sentou. – Quando eu era menina, trabalhava auxiliando em um prostíbulo de Porto Alegre, ajudava as garotas a trocarem de roupa, alcançava toalhas e jogos de lençóis limpos, essas coisas. Uma delas se chamava Irina. Havia chegado de Minas Gerais e estava bem perdida, quando Jorge a encontrou e a trouxe para o “Só Prazeres”.
– Minha bisavó era uma prostituta?
– Era. Uma das mais procuradas. Seus cabelos vermelhos e seus olhos verdes, junto com o nome, lhe faziam passar por uma legítima imigrante russa.
– Sempre achei que ela era russa.
– Meio russa. A mãe dela realmente era descendente de russos, mas o pai era um rico empresário de Belo Horizonte.
– Mas como a filha de um rico empresário vira prostituta?
– Por que ela era filha da empregada, assim como a sua mãe. Só que nunca foi reconhecida. Quando os pais morreram, em um acidente, não houve herança. Na verdade ela apenas sobreviveu porque uma tia veio busca-la e a levou para São Paulo.
– Mas você disse que ela veio de Minas... ela voltou pra lá?
– Sim. Sem saber, ela começou a namorar o seu sobrinho. Quando o apresentou a sua tia, essa reconheceu a família e lhe contou a sua história. Ela acabou casando com ele, por vingança, mas a mãe dele não gostou. E lhe lançou um feitiço.
– Um feitiço? Como essa pedra?
– Pelo que pude entender, essa mesma pedra. Só que maior. Irina se casou com Carlos para recuperar a própria herança, mas recebeu uma pedra retangular, de reflexos amarelados e rosas – Odete colocou a pedra contra a luz de forma que as garotas pudessem ver os mesmos reflexos – e essa pedra fez algo que quase matou Irina. Mas conseguiu matar o filho que estava em seu ventre.
– Nossa. Estou arrepiada. – Soraya mostrou o braço.
– E ela nunca amou o marido? – Lúcia se surpreendeu com a frieza da avó.
– Chegou a amar. Mas acabou dando a pedra a ele. E ele morreu, sem saber, por ela. No enterro, Irina devolveu a pedra a Elvira, sua sogra, e veio para Porto Alegre.
– E agora a pedra está comigo.
– Sim, a pedra voltou para as mãos de uma descendente de Irina. Como não acredito em coincidências, os outros descendentes também devem ter a sua pedra.
– Você conhece os meus outros parentes?
– Sim. Acompanhei a vida de Irina. E por isso acredito que você não conseguirá se livrar dessa pedra.
– Ela teve contato com essa pedra outras vezes?
– Teve, antes de morrer. Assim como a sua avó.
– Como você sabe?
– O pequeno João, seu primo, me contou quando estive no enterro. Ele disse que a mãe havia achado uma pedra estranha no quarto que era do tio Sílvio, e a avó havia brigado com ela por causa disso. Sua bisavó morreu ao cair de uma escada, o que tudo indica, com a pedra na mão.
– Então a maldição da pedra já se realizou?
– Creio que não. Essa pedra não é coisa de uma bruxaria qualquer. É arte antiga.
– Desculpe, Odete – Soraya torcia as mãos nervosamente – mas como você sabe tudo isso?
– Sou descendente de ciganos. Minha mãe me ensinou muita coisa sobre destino, leitura de mãos e artes antigas. Olhe essa pedra – Odete a levou até as meninas – existem marcas em sua superfície. Observem: pequenos símbolos.
– E o que eles significam?
– Não sei. Posso dizer que é uma das línguas mais antigas. Creio que trazida ainda pelos escravos. Se eu tivesse a peça completa, talvez até tivesse alguma idéia...
– Bom... podíamos tentar entrar em contatos com os outros parentes. Quem sabe eles também tem a pedra? – Clarissa caminhou até a janela e segurou as mãos de Lúcia.
– Para isso, precisamos descobrir onde eles estão. – Soraya também se levantou.
– Eu sei onde eles estão. – Odete declarou.
– Sabe? – os olhos de Lúcia brilharam de esperança.
– Sim...no eixo Rio-São Paulo. Só precisamos descobrir o endereço.
– E como fazemos isso? – Soraya voltou a se sentar.
– Bom...- o interfone de Odete toca – Deixem-me ver, já lhes digo a minha idéia. Sim? – seus olhos arregalaram e as meninas começaram a trocar olhares, especulando o que poderia ter acontecido. – Quem? Galdos? Claro. Pode mandar eles subirem.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Nem nos meus sapatos

Toda a mulher tem fascínio por sapatos, de preferência com saltos bem altos e detalhes diferenciados. Algumas chegam ter centenas de pares desse objeto que caminha entre a necessidade e o fetiche.
No meu caso sapatos são objetos de desejo e inveja. Calma, não se assuste, já explico a razão de um termo tão forte. Minha inveja se refere a quem pode utilizá-los. Sim, pois compro no máximo um sapato por ano, visto que é quase impossível achar um que se adapte aos meus delicados (para não dizer anormais) pés.
Estou quase firmando uma sociedade com a band-aid de tantos que utilizo no verão, visto que até as chamadas sandálias da linha confort provocam bolhas nos meus dedos e calcanhares. Quando se trata das normais, consigo a proeza de chegar a cortar aquela parte fofa embaixo do pé.
Já me disseram que tudo é questão de hábito. A sugestão é me tornar masoquista, abandonar os meus fiéis tênis e suportar até o pé ganhar resistência. Embora não seja promessa de ano novo, estou tentando. Mas como ninguém me disse que não poderia tirá-los, estou agora com eles livres, leves e doloridos, enquanto a minha sandália carrasca aguarda próxima a minha menor necessidade de deslocamento.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Capítulo Vinte

Belo Horizonte, Cidade Jardim

Entraram em silêncio no pátio da casa, apenas o ronco do motor quebrava a monotonia da mansão. Vivian se sentia exausta, tendo a mesma sensação de quando levava surras de sua mãe.
– Você irá ler o livro hoje? – Antônio havia desligado o carro – Ou vai esperar até amanhã?
– Vou esperar. Minha cabeça está explodindo, assim como as minhas pernas, meus braços... não tenho mais idade pra isso.
– Nem eu. Vamos descansar. – Antônio abriu a porta do carro, fez a volta e ajudou Vivian sair.
Vivian caminhou lentamente, dispensou o banho e a camisola. Deitou-se e seus olhos fecharam. Sem sonhos, nem encontros. Depois de semanas, finalmente tinha uma noite tranqüila.

– Então – Antônio colocou a faca que havia usado sobre a mesa – o que acha que vamos encontrar?
– Não sei. – Vivian passou a mão pela capa do livro antes de segurar a xícara de café – Imagino que descobriremos a razão de madame Elvira ser assim.
– Não achei que existissem razões para uma pessoa ser má.
– Também não acredito. Mas muitos justificam seus atos por determinados fatos. Por exemplo, quantos bandidos são defendidos pelos direitos humanos? Tudo por que tiveram uma infância pobre, o pai assassinado ou uma mãe puta?
– Falando palavrão, Vivian? – Antônio caiu na gargalhada.
– Pode rir. Mas no caso de madame Elvira, ela não teve nada disso. Nasceu em família rica, casou-se com um marido rico. Tinha tudo para ser feliz.
– O que comprova que dinheiro não trás felicidade.
– O que comprova que a maldade nasce com a pessoa.

Vivian lavou a louça do café, enquanto Antônio arrumava a casa. Com tudo terminado, ambos saíram e se dirigiram a mansão. Abriram as janelas e foram até o escritório. Escolheram duas poltronas próximas e sentaram-se.
– Preparado? – Antônio fez que sim com a cabeça – então vamos lá. – Vivian colocou o livro no colo , abriu a capa com cuidado e começou a folhear as páginas. Ficou alguns segundos calada, antes de revelar o conteúdo com uma voz baixa e suave
“Estou realmente ruim da gripe. Minha mãe me colocou na cozinha, junto com Josefa. Estão todos preocupados, porque já faz semanas que estou assim. Josefa abriu um livro, de capa amarela, muito velho e folheou algumas páginas. Depois foi até o pátio e voltou com várias folhas e seguindo algumas instruções, ela fez um chá.
Dormi a tarde e parte da noite. Acordei sem gripe. Levantei e fui até a cozinha, procurando alguma coisa para comer. Sem querer, achei o livro de Josefa. Não dá para entender o que está escrito, está cheio de símbolos. Ouvi estranhos barulhos no quarto dela e fui até lá. Ao abrir a porta, me deparei com o meu pai deitado sobre ela. Ela me viu.”
– Antônio. Josefa era nossa avó. – Exclamou, desviando os olhos do livro para o rosto surpreso de Antônio.
– E ela dormia com o patrão?
– Imagino que não era por vontade própria. Ela era uma escrava quando foi trabalhar na família de madame Elvira. E mamãe sempre disse que ela não teve outra opção, além de ficar, pois a mãe de madame Elvira implorou por isso.
– Continue, Vivian. Acho que teremos mais surpresas.
“Josefa veio conversar comigo, envergonhada, disse para ela não se preocupar, que apesar de só ter doze anos, sei que a minha mãe não gosta que o meu pai lhe toque, e Josefa só está ajudando-a. Aproveitei o seu momento de fraqueza, e pedi para me falar sobre o livro. É um livro de bruxaria, escrito em uma antiga língua pagã, que a mãe de Josefa lhe ensinou. Como sou uma boa menina, Josefa também irá me ensinar.”
“Josefa está grávida, do meu pai.Perguntei-lhe por que não utiliza o livro. Ela disse que não pode, que a magia utilizada para o mal, provoca danos irreparáveis no organismo. Além disso, ela não vai dar fim a única coisa que realmente é dela.”

Vivian levantou a cabeça e começou a chorar.
– O que houve?
– Minha mãe! – sua voz tremeu - Minha mãe é meia irmã de madame Elvira.
– Você está brincando?
– Não. Está aqui.

“É uma menina. Josefa colocou o nome de Catarina. Meu pai nem tomou conhecimento. Agora ele anda com a moça que arruma os quartos. Mesmo assim, não gosto de saber que tenho uma irmã bastarda. Roubei o livro de Josefa e tentei fazer uma das magias para voltar a ser feliz, mas além de não ter conhecimento, senti uma dor muito grande nas mãos enquanto escrevia a maldição. A criança chegou a sentir dor, ouvi o seu choro desesperado. Assim como ouvi as palavras estranhas que saiam da boca de Josefa.”
“Devolvi o livro sem que Josefa percebesse. E me comporto como se adorasse sua filha. Preciso aprender mais, mas ela está desconfiada de mim. Sei que ela colocou um feitiço de proteção na menina, seus olhos me acusam.“
“Josefa me perdoou. E está me ajudando com uma porção do amor. Sim, encontrei o marido ideal. Abaixo a receita”.

Conforme Vivian virava as páginas, acompanhava a vida da adolescente Elvira e de sua avó. Os relatos diziam que Elvira havia aprendido a suportar a dor e usar a magia negra. Estava tudo ali, o casamento, a lua-de-mel, o ciúme doentio de Adriano, o afastamento de casa e a sua gravidez.
– Meu Deus. Antônio escute essa: “...eu não tinha conhecimento, mas após a morte de minha mãe, meu pai assumiu, dentro de casa, um romance com a arrumadeira, que agora lhe deu outra filha, com o nome de Irina. Essa bastarda, que ele insiste que eu chame de irmã, será um pouco mais nova que o meu filho. Mas o pior é que, por ela ser branca, e ele se achar apaixonado pela empregada, irá fazer um novo testamento.”
– Irina era meia-irmã de Elvira também?
– Pelo jeito sim. Isso explicaria todo o ódio de madame Elvira pela nora...
– Mas acho que Irina nunca imaginou estar se casando com o sobrinho...ou ela sabia?
– Não sei.
– Irina não recebeu nada do pai de Elvira?
– Não... deixe-me ler. Madame Elvira lançou uma maldição, o pai dela e a empregada morreram. A criança sumiu. – Vivian levantou as sobrancelhas – Madame Elvira não tinha muita sorte em lançar feitiços em crianças. – Virou mais algumas páginas. – Minha avó ensinou o feitiço do esquecimento a ela... e ela aplicou no advogado, sumindo com o testamento.

Vivian só almoçou porque Antônio foi providenciar comida. Passou o dia e parte da noite lendo. Quando terminou, estava exausta. E apavorada. Antônio dormia em uma poltrona. Apesar de terem limpado todas as maldições, ainda sentia a presença de madame Elvira na casa. Imaginava até o local onde ela se encontrava. Em seu antigo escritório, no térreo, onde vários quadros retratavam os seus antepassados e pesadas cortinas marrons impediam que se vissem as janelas.
Levantou e sacudiu Antônio de leve, pelo ombro.
– Vamos dormir?
– Hã...ah, sim... – esfregando os olhos, ele se levantou meio torto – Você já terminou?
– Sim.
– E?
– Madame Elvira estava completamente louca no final de sua vida, e pior, ela sabia que iria morrer ao fazer todas as maldições.
– Uma espécie de suicídio?
– Não. Ela achava que nunca teria paz enquanto houvessem bastardos que compartilhassem o seu sangue.
– Por isso a maldição nos descendentes de Irina?
– Não só neles, Antônio. Eu também não estou aqui por acaso. Também sou uma bastarda, compartilhando o sangue da família de madame Elvira.
– O que você quer dizer?
– Madame Elvira trouxe a minha mãe, para ser sua empregada, para evitar que ela casasse e engravidasse. Não contava que a minha mãe conhecesse o meu pai em uma ida ao mercado. Assim como não contava que ela também soubesse combater as maldições. – suspirou passando as mãos na capa preta do livro – Ela tentou fazer com que mamãe abortasse...assim como que eu sofresse acidentes. Mas mamãe sempre me protegeu. E me preparou.
– Preparou?
– Sim, preparou. Ela me ensinou tudo o que era necessário para desfazer as maldições. Para que, tanto os nossos descendentes, como os de Irina, possam viver suas vidas livres de madame Elvira.
– E qual o próximo passo?
– Achar os descendentes e a pedra. Conforme esse livro, a paz de espírito de todos, incluindo a maldita madame Elvira, dependem do que está escrito lá.
– Como vamos encontra-los?
– Através de jornais. Amanhã, vamos colocar um anúncio em todos os principais jornais do Brasil. Com certeza, iremos acha-los.
– E a pedra?
– Algo me diz que a pedra estará com eles.
– Vivian... se não conseguirmos encontra-los?
– Todos iremos morrer.