quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Projetando móveis

Procurar móveis para casa já é uma coisa complicada por natureza, quando a casa em questão é um apartamento pequeno, o caso se torna ainda mais complexo. Durante o último ano realizei orçamento de inúmeros projetos. Mais do que valores, eu procurava idéias, pois precisava criar locais para guardar tudo o que é necessário para um casal morar, sem deixar o local com aparência de amontoado. Só que nesta busca, quem mudou os conceitos fui eu.



Piores projetos:

Loja A: Troféu pior projeto visto, o que foi apresentado serviria no máximo para um homem (devido ao tamanho da sapateira) que nunca comesse em casa (devido a falta de armários). Total desinteresse da projetista em ajustar os ambientes na hora, além de uma grande falta de gosto. Foi a grande decepção.
Loja B: Além de perder as anotações (que foram reenviadas por e-mail), a projetista colocou tudo aquilo que não queríamos, como um quarto branco.

W.O.


Loja C: Nos deparamos com aquele tipo de vendedor que avalia o cliente pela roupa que veste. Resultado: Ele nunca entrou em contato para avisar se o projeto estava pronto.

Lugar comum
Loja D: Semelhante ao vendedor da Loja C, não demonstrou muito interesse e mostrou um projeto simples, sem nada de diferente. Tempos depois, após me encontrar em um shopping após um dia de trabalho (isto é, um dia em que era obrigada a estar mais social), ela tentou restabelecer contato para discutir o projeto.
A maioria das lojas entrou neste caso (projeto legal, mas nada de diferente), embora o atendimento tenha sido bem melhor.

Ótimo atendimento
Porto Móveis: Atendimento nota 10. O apartamento e o loft montados dão ótimas idéias e todo o pessoal é extremamente atencioso. Além de possibilitar montar a casa inteira (eles possuem mesas lindas, então ainda vou voltar lá). Trabalham com diversas marcas, o que permite ajustar o projeto ao bolso do cliente.

Criatividade nota 1000
Italínea (Ipiranga): Indicada por uma amiga foi com desconfiança que entrei na loja, visto que o material teoricamente é inferior ao das demais (a prática só saberei depois de junho), mas o projeto apresentado foi simplesmente maravilhoso. Aproveitamento dos espaços sem atulhar, criatividade, boa distribuição, o tipo de projeto que se torna parâmetro para os demais. Quando eu o vi, pela primeira vez me enxerguei morando no apartamento. Com preço semelhante as demais (exceto a Dellano, e imagino a Bontempo), resolvemos apostar e fechar negócio.

O que mais me chocou foi o preconceito dos atendentes das lojas com “nome”. Não sei se sou a única, mas após uma semana desgastante, principalmente nos dias de verão, gosto de sair de bermuda, regata e sandália baixa. O que muitos esquecem é que é fácil comprar roupas de marca, e que elas não são sinônimos de dinheiro no banco. Em todo caso, só tenho a agradecer, pois graças a eles dei uma chance ao acaso e encontramos um projeto que tinha a nossa cara.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Porto Seguro – Chalana

Quando li o resumo do passeio, confesso que não me entusiasmei muito. Mas como era a única opção de domingo, encaramos, e como diz um comercial que anda rolando na TV, a única opção pode ser legal.

Para chegar na chalana, fomos para o lado contrário ao que estava o nosso hotel, no caminho, além de avistar as demais praias, é possível ver a aldeia indígena Pataxo, localizada em Coroa Vermelha – Santa Cruz Cabrália.


Para quem fica nos hotéis a beira-mar, uma dica para conhecer este local é pegar um dos ônibus urbanos e passar o dia lá, como fez a Rita, uma turista carioca que encontramos neste passeio. Infelizmente, por estar com todos os dias marcados por outros passeios, não fizemos essa experiência, mas conforme ela, é um passeio muito legal e mais em conta do que se pagar o pacote das agências.

Em um local com casas grudadas e coloridas, fica o embarque da chalana. Para os fãs de fotografia, fica a sugestão de ficar na frente para pegar um lugar na parte de cima.


A primeira parada é para um banho de lama no mangue. No caso da chalana em que fiz o passeio, a tripulação era muito animada e divertida, com isso, antes dos turistas descerem, houve uma apresentação do “monstro”, com direito a coreografia a lá Michael Jackson.


A lama realmente deixa a pele mais macia, mas a guria de apartamento aqui sentiu uma certa coceira nos minutos que literalmente ficou na lama, e não conseguiu ficar muito tempo, então imagino que, para os menos frescos, o efeito deve ser ainda melhor.

A segunda parada é na praia e Santo André, com águas paradas e mornas, é possível ficar horas relaxando por ali. Para quem gosta de experimentar coisas diferentes, a água de coco com abacaxi, manga e vodka é uma delícia.

E como ninguém é de ferro, a terceira parada é para o almoço. O restaurante em que paramos ofereceu um buffet simples, mas gostoso, e surpreendente sem tempero (próprio para os turistas). Permitindo assim a escolha de apimentar ou não a sua refeição. Sugestão: Não coma sobremesa, pois ainda há mais uma parada.

Na parada final pudemos ver os caranguejos que moram na Ilha do Sol (e lembrar imediatamente de uma música chiclete de antigos verões) e enfrentar a tentação de uma loja com doces típicos. A cocada de forno é simplesmente uma delícia.


Neste local é possível tirar uma foto segurando um caranguejo e sentar na piroga do Cabral. Se não quiser nenhum dos dois, também é possível só curtir o local.

O passeio dura quase todo o dia, e no retorno ao hotel ficam as opções de se atirar na piscina, jantar e descansar ou sair para uma festa, pois o que não falta em Porto Seguro é lugar para se divertir.

Capítulo Vinte e Cinco

Curitiba, Cristo Rei

– O gato é a minha avó? – Doca perguntou.
– É bem provável. – Odete ponderou. – Uma guardiã para os herdeiros.
– E você quase a atropelou. – Doca balançou a cabeça, antes de olhar para João.
– Mas acho que ela não morreria. – João foi até a mesa e pegou a pedra. – Imagino que esse seja o formato original – comentou analisando a pedra retangular.
– É sim. – Odete se aproximou de João. – Agora ela está exatamente como Irina a descreveu. Uma pedra retangular, de dez centímetros com reflexos amarelos e rosas.
– E agora? – Lúcia se levantou, massageando a cabeça, para espiar a pedra. Doca se aproximou também e apontou para a superfície.
– Olhem. Parece que tem algo escrito.
– Deixem-me ver. – Odete pediu. Ficou uns quinze minutos olhando a pedra, passava os dedos pela superfície, virava, colocava contra luz, passava as mãos novamente.
– São símbolos antigos. Minha mãe me mostrou algo parecido, mas não tenho idéia do que significam ou de onde vem.
– O que vamos fazer?
– Hoje, minha menina, vamos descansar.
– Para onde vamos, João?
– Para lugar nenhum. Vocês dois vão dormir na minha casa. Eu vou levar Lúcia pra casa e já volto para acomoda-los.
– Não é necessário. Já estou bem.
– Não discuta. Sintam-se à vontade, meninos. Em cinco minutos estou de volta.

– Eu estou bem. – Lúcia afirmou enquanto abria a porta do elevador.
– Você está confusa. Não adianta mentir.
– Acho que estou mais assustada do que confusa. – O elevador chegou no andar do apartamento de Lúcia. – Nunca estive numa situação como essa, mas sei que temos uma missão.
– Com certeza. Mas logo o destino irá ditar o caminho.
– O destino?
– Lúcia. – Odete colocou as mãos no rosto de Lúcia. – Nada aconteceu por acaso. Vocês foram levados a receberem essas pedras e a se encontrarem. Existe mais alguma coisa que não se encaixa, mas acredito que logo irão descobrir.
– Mas que preço iremos pagar? – Lúcia suspirou. – Fico pensando ... e se ignorássemos a pedra e levarmos a vida adiante? – Soltou-se das mãos de Odete e se apoiou na porta do apartamento. – Aproveitar que o destino nos aproximou.
– Lúcia, minha filha, não é tão simples. – a luz do corredor se apagou, e Odete foi até o interruptor para acende-las. Quando encarou Lúcia, seus olhos eram sérios e tristes. – Vocês não tem escolha. Ou vocês tentam solucionar o mistério ou a pedra irá matar vocês.

– Somos primos mesmo, João. – Doca estava sentado em um dos sofás de Odete, olhando com admiração para o homem na sua frente.
– Você tinha alguma dúvida?
– Claro. Tu é um cara bacana, usa roupas iradas. Eu sou um pobre coitado da favela.
– Doca, você não é e nunca será um pobre coitado. É um menino muito inteligente.
– Sou?
– Claro que é.
– João. – A voz de Doca ficou séria.
– Diga.
– O que vai acontecer agora?
– Não sei. – João caminhou até a janela, para que Doca não percebesse em seu rosto a preocupação que sentia. - Vamos ter que aguardar o próximo sinal.
– Sinal?
– Estamos sendo guiados, Doca. – Suspirou. – Desde o início. Nada foi coincidência. Estávamos ligados e por isso nos encontramos.
– Então ainda falta uma pessoa. – Doca concluiu.
– E quem você acha que falta? – João voltou a encarar o menino.
– A pessoa que vai decifrar o enigma. – Doca apontou com a mão, João acompanhou o movimento e viu a pedra.

– Eis a sua quarta pessoa, Doca. – João abriu o jornal na mesa para que todos vissem.

“Solicitamos aos descendentes de Irina e Arnaldo Ribas que entrem em contato com Vivian, em Belo Horizonte.”

– Aqui tem um número de telefone. – Doca apontou para a última linha do anúncio. – Nós vamos ligar?
– Vamos. – João levantou e foi até uma pequena mesa de canto que existia na sala – Odete?
– Claro. Não precisa nem pedir.
João discou os números com firmeza e aguardou o chamado.
– Alô. Sou João Galdos, descendente de Irina e Arnaldo. Sim, vi o anúncio no jornal. Sim, sei onde estão. Estão comigo. Claro. Vou tentar passagens para hoje mesmo. Pode deixar que eu aviso.
– Doca. Vá ao apartamento de Lúcia. Vamos viajar?
– Para onde?
– Para Belo Horizonte.

Doca saiu correndo. Odete franziu a testa e foi até a janela. Seu coração estava apertado. Gostaria de entender o que estava escrito, principalmente, de ir junto. Mas não podia. Observou João negociando a compra de três passagens. Quase abriu a boca e corrigi-o para quatro, mas não pertencia a família. Mesmo Irina, que lhe pedira tantos favores, como lhe passar relatórios de Josias, nunca permitiu que ela se tornasse íntima.
– Pronto. Hoje à tarde, iremos embarcar para Minas.
– Você tem certeza? – Odete perguntou. Sentindo o medo percorrer-lhe a espinha.
– Certeza do que, Odete?
– De que vocês devem ir? Algo me diz que o resultado desse encontro não será bom.
– Odete. O destino está nos levando. E te confesso, pra mim, ele só trouxe coisas boas. Pouco tempo atrás eu era apenas um playboy, não por opção, mas por pura solidão. Agora tenho família, um garoto fantástico para me fazer companhia e uma prima para me apaixonar. – Sorriu. – Apesar de tudo, não consigo sentir medo e fui o único que não a vi. Tenho certeza que conseguirei protege-los.
– Meu filho, que assim seja. Estarei esperando pela volta de vocês.
– João! – Doca entrou ofegante no apartamento. – A Lúcia foi trabalhar.
– Mas claro. Hoje é terça-feira. – Odete lembrou.
– Você sabe o endereço da empresa, Odete?
– Não. O pior é que não sei nem o nome. Mas tenho o celular de Clarissa.

Clarissa terminava de imprimir o relatório com os últimos dados para o evento, quando o telefone tocou. Deu um pulo na cadeira, e só relaxou quando viu o visor luminoso indicando o número da casa de Odete.
“Relaxa, Clarissa, Lembre-se das aulas de yoga. Respiração profunda e lenta” pensou antes de atender a ligação.
– Alô. É ela. João? Ah, sim, Claro. Ela está em outra sala, me dá um minuto.
Clarissa saiu da sala correndo e desceu um lance de escada. Entrou no setor de recursos humanos. O clima continuava pesado, alguns tinham ido para o hospital dar apoio a Heloísa. Outros aguardavam a confirmação do horário do enterro do menino.
– Lúcia. – Chamou. Quando essa a olhou, estendeu o aparelho. – O João quer falar contigo.
– Alô. Oi. Capaz. Deixe-me ver. – Lúcia levantou e foi até a mesa do café e pegou o jornal do dia – Página 5? – Virou as páginas. Clarissa acompanhou Lúcia e olhava as páginas curiosas, quando um anúncio lhe chamou a atenção. Segurou a mão da amiga e o indicou.
– O que está havendo? – Soraya entrou na sala e Clarissa colocou um dedo nos lábios indicando silêncio. Ela se aproximou e viu o que as duas estavam lendo.
– Vou perder o meu emprego por isso. – Sentiu o coração apertar. Com resignação, engoliu o soluço antes de continuar a falar. –Mas não temos solução. Vou te passar o endereço e você pode vir me buscar.
– Vamos para Belo Horizonte. – disse ao devolver o telefone para Clarissa. – Vou ter que sair.
– Não se preocupe. Todas iremos. O velório do guri será agora à tarde, como sabia que nenhuma de nós três tinha cabeça para ir, candidatei-nos a ir comprar as flores. Ninguém vai perceber.
– Não se preocupe. – Soraya a abraçou. – Quando você voltar, o teu emprego estará aqui, te esperando. – Deu um beijo na face direita de Lúcia. – Todos nós estaremos te esperando. Tu, o menino e o teu primo gostosão.
– É isso aí. – Clarissa falou, antes de abraçar as duas amigas.

Uma hora depois, as três entravam no carro de João. Pararam durante o trajeto, para largar Clarissa e Soraya em uma floricultura. As três se abraçaram novamente. Ninguém teve coragem de falar. Pela primeira vez, todos sentiram medo.
– Que Deus os proteja. – disse Clarissa.
– Que Deus os proteja. – repetiu Soraya.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pré-estréia: Ritual

Ontem assisti a pré-estréia proporcionada pelo Clube do Assinante (dos jornais do grupo da RBS) do filme “Ritual”, e digo que, apesar de ter cenas de exorcismo, na minha opinião, o tema do filme é bem diferente disso.
Na cena inicial vemos Michael realizando o ritual de arrumar um cadáver. Ele é um agente funerário como o seu pai, mas louco para se livrar daquela vida. Conforme confessa a um amigo, na sua família só existem dois caminhos: dar continuidade ao negócio do pai ou ser um seminarista. Ele acaba optando pelo segundo.
Desse ponto em diante o filme mostra o amadurecimento de Michael, vivido pelo ator Colin O’Donoghue, que atinge o seu ápice ao ser enviado a Roma para um curso de exorcismo, única opção dada por seu mestre após ele haver pedido seu desligamento no seminário. Mas não é na sala de aula que ele irá encarar os seus demônios (literais e virtuais). Através do padre Lucas (o maravilho Anthony Hopkins) ele irá questionar a fé e se defrontar com lembranças antigas. O filme também conta com Alice Braga, vivendo o papel de uma jornalista em busca de respostas para velhos problemas.
Com a garantia de alguns sustos, o filme pauta a questão da crença, seja ela religiosa ou em si mesmo, e a questão dos outros definirem o seu destino, pois é isso que Michael transpareceu pra mim. Se o padre Lucas é um homem que também tem suas dúvidas, por outro lado ele parece ter muita certeza das decisões que toma. Já Michael é um menino-homem que tem todas as suas decisões decididas por qualquer outro evento, menos a sua própria vontade.
O filme entra em cartaz em Porto Alegre amanhã, dia 11/02/2011.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Principal

Quando a Cristina me perguntou o tipo de lugar em que eu gostaria de realizar a festa do meu casamento, as características estavam na ponta da língua: envidraçado (para dar amplitude e não parecer sufocado), estacionamento e boa comida.
Como este é o item principal do evento, me preparei para começar as buscas e fazer inúmeras visitas. O incrível é que o primeiro lugar que visitamos já nos encantou, em duas semanas estávamos com o negócio fechado. E o melhor, a Cristina já sabia de uma igreja pequena que ficava por perto e nos levou lá, com isso, a parte principal do casório está resolvida: igreja, local e buffet.
Agora é hora de partir para os detalhes, e cada vez que passeio pelo noiva.com encontro mais itens, com isso o negócio é respirar e planejar antes de assinar os cheques ou passar o cartão.

O resultado final

No ano passado eu comecei (e confesso, não dei continuidade) a minha postagem sobre a dieta iniciada. A boa notícia é que perdi 10 kilos de lá pra cá, e sim, fechar a boca, principalmente para frituras e refrigerantes ajuda e muito (tentei excluir os doces, mas a minha glicose baixa não permitiu).
Essa mudança alimentar está me auxiliando muito hoje, enquanto me dividindo entre os detalhes do casamento, briga com a construtora, trabalho, orçamento de móveis e minhas leituras, mesmo quando a ansiedade bate, não me atiro no chocolate e o meu animo é muito melhor, afinal, estou bem mais satisfeita comigo mesma.
Não houve segredos ou medicamentos (embora eu tenha pensado seriamente naquelas fases em que o peso empaca como uma mula), apenas uma alimentação correta e exercício físico. Claro que o fato de eu amar atividades físicas (e ir quase todas as noites para a academia), também ajuda, mas tudo é uma questão de realmente querer e não se sabotar (pelo menos, no meu caso).

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Porto Seguro – Centro Histórico

Ao ir por agência de viagem para Porto Seguro, veio incluso no pacote um city tour, que consiste em uma visita ao centro histórico da cidade.

Nesta visita é possível assistir a uma apresentação de capoeira (para quem quiser ajudar o grupo, sugiro que dê uma olhada nos chaveiros vendidos por eles, que são uma graça) e comer um acarajé.


O local também oferece uma bela visão das praias e a possibilidade de conhecer construções antigas, como a matriz Nossa Senhora da Pena, a protetora das artes, ciências e letras.



Não é possível tirar fotos dentro da Igreja, então um bom zoom na máquina fotográfica se faz necessário para captar fotos.


Nas pequenas e coloridas casas espalhadas (diz o guia que uma é do Gilberto Gil), é possível encontrar diversos artigos a venda. Mas vale lembrar que bolsas, roupas de praia e barquinhos também são encontrados na Passarela do Álcool.


Vale a pena se aproximar do pórtico de entrada e ler parte da carta de Pero Vaz de Caminha e observar a linda parede de azulejo e seus desenhos.

Capítulo Vinte e Quatro

Curitiba, Cristo Rei

– Dona Odete? – João estava surpreso com o sorriso da senhora a sua frente, como se estivesse lhe esperando.
– Sou eu mesma. Mas pode me chamar de Odete, João. – viu um menino pequeno carregando uma mala. – E você, quem é?
– Eu sou o Doca.
– Ele é meu primo, Odete.
– O filho de Josias?
– Como à senhora sabe o nome do meu pai?
– O filho de Josias. Tenho a estranha impressão que a senhora já estava nos esperando...
– De certa forma, sim. Mas entrem. Vocês precisam conhecer uma pessoa.
João entrou no apartamento, seguido de Doca. No sofá, uma jovem de olhos puxados e mechas loiras pressionava a boca, transformando os lábios em uma linha fina. Na janela, uma morena baixinha parecia estar vendo um fantasma e uma outra com cabelos castanhos e olhos brilhantes caminhava em sua direção.
“Ela é simplesmente encantadora” João pensou enquanto levantava os ombros, melhorando a sua postura e preparando o seu melhor sorriso.
– Boa noite, senhoritas. Eu sou...
– O João. E esse é o Doca. – interrompeu a senhora enquanto fechava a porta – seus primos, Lúcia.
– Primos? – todos exclamaram.
– Sim Aqui estão... Lúcia neta de Sílvio, tio de João e Doca. Qual o seu nome, Doca?
– Eduardo.
– Bonito nome. Por que não o usa?
– Todo mundo usa apelido na favela. Ela é minha prima também?
– É.
– E a senhora conhecia o meu pai?
– De certa forma, sim. Mas vamos, sentem-se.
– Se vocês não se importam... eu tenho um compromisso.
– Claro, Clarissa. Vá.
– Eu também vou, Lúcia. Apensar de sermos uma família, acho que vocês devem ter muita coisa para conversarem.
– Não se preocupem, meninas. Não estou correndo perigo.

As duas saíram e aguardaram o elevador em silêncio. Apenas quando entraram no seu apartamento, Soraya deve coragem de falar.
– O que você acha?
– Não sei... é tudo muito estranho. Nada tem uma explicação lógica.
– Por que você não contou sobre a pedra?
– Por que eu peguei sem pedir. Com que cara eu ia dizer “Olha Lúcia, peguei a sua pedra para usar em um evento, mas derrubei ela em um lago e agora ela reapareceu no seu quarto?
– Você ia parecer louca.
– Mas uma coisa eu te digo... ao contrário do que a Lúcia acha, ela está correndo perigo sim. Aquela pedra é maldita e se eles tiverem outros pedaços, qualquer coisa pode acontecer.
– Então vamos rezar para que não aconteça.
– Vamos.
As duas se deram as mãos, e baixinho, começaram a rezar o Pai Nosso.

– Então você conhecia a minha avó? – João perguntou.
– Sim, trabalhei com Irina durante pouco tempo.
– Você era prostituta também?
– João! – Doca exclamou.
– Sim. Não fique assustado, Doca. Estamos entre amigos. Como você ficou sabendo?
– Minha mãe leu os diários de Irina, destruiu todos, mas algumas coisas ela colocou nos próprios diários. A vida de Irina, o filho abandonado, o sofrimento de Sílvio.
– Ela engravidou por acaso. Fazia poucos meses que estava na profissão, era inexperiente e não tomava todos os cuidados necessários. Foi escolhida por um cliente mais violento e acabou grávida de Josias.
– Mas isso não era razão para abandonar um filho. – Lúcia olhou para Doca, que ouvia tudo em silêncio.
– Não julgue, Lúcia. Irina era jovem, tinha perdido o marido, não tinha um centavo no bolso. Ela não tinha grandes escolhas.
– Tudo era contra ela. – João concluiu.
– Tudo. Ela apertou a barriga. Amarrava bem e a maioria dos homens achava apenas que ela estava mais gordinha. Foi quando conheceu um rapaz bem-sucedido, que depois de uma noite, ficou perdidamente apaixonado por ela.
– E ele não aceitou o meu pai? – a voz firme entrou em contraste com os olhos embaçados, indicando o desejo de chorar.
– O rapaz nunca ficou sabendo. Irina disse que ia encontrar uma prima e foi para o Rio de Janeiro. Lá ela deu a luz a um menino e deu para uma senhora, que estava no mesmo quarto de hospital, e que gritava em desespero por ter perdido o filho. – Odete levantou e abraçou Doca – Mas essa senhora morreu de câncer. O destino de Josias era ser jogado no mundo. E assim ele foi parar em um orfanato e depois, na favela.
– E Irina? – Lúcia perguntou
– Irina voltou para Porto Alegre e o rapaz a pediu em casamento.
– O rapaz era meu avô?
– Era. Tiveram dois filhos, Sílvio e Manoela. O resto, vocês sabem.
– E a pedra? - Doca levantou os olhos, observando Odete mais atentamente.
– Já que perguntou... vocês a trouxeram, João?
– Sim. – procurou o fecho e abriu a mala que estava nos seus pés. Dela tirou um objeto enrolado em um tecido marrom, que se revelou uma camisa.
– Ela é maior? – Lúcia arregalou os olhos.
– Estão grudadas. – Odete afirmou.
– Exatamente. Você a conhece?
– Nunca tinha visto, mas Irina falava muito dela. A pedra maldita. Você também me falou sobre ela, quando sua avó morreu.
– Já nos conhecíamos? Interessante. – João se levantou e foi até uma mesa redonda, colocando a pedra na superfície de vidro. Mexendo no arranjo que ali estava, ficou olhando para o nada. – Eu era pequeno, mas lembro de minha mãe ter achado uma parte do triângulo no quarto de Sílvio e de sua mãe – olhou para Lúcia – minha avó viu e arrancou da mão dela. Saiu em desespero de casa e caiu na escada. Quebrou o pescoço.
– Que horror. – Doca se aconchegou mais nos braços de Odete. – Você também tem a pedra?
– Tenho. – Lúcia a tirou do bolso do casaco.
– Cuidado. A bruxa pode pegar. – o menino sussurrou.
– Que bruxa?
– Não sabemos. Mas algo grudou as pedras.
– Eram duas? – Odete soltou Doca e se levantou.
– Eram.
– Qual o próximo passo? Odete olhou para Lúcia que imediatamente descobriu sua resposta – Vamos aproxima-las.
– Espere. Vamos montar o ambiente. – Caminhando ligeiro, Odete sumiu pelo pequeno corredor. Quando voltou, trazia os braços cheios de coisas. Colocou tudo em cima da mesa. Retirou o arranjo e abriu o primeiro saquinho e fez um circulo branco.
– O que é? – Doca cochichou no ouvido de João.
– Acho que sal.
Fora do círculo, acendeu sete pequenas e coloridas velas. Beijou um medalhão e os encarou.
– Lúcia, traga a sua pedra. – Lúcia se aproximou e colocou o seu triângulo perto da peça maior. – Fique aqui. – Ordenou quando Lúcia começou a se afastar.
– Eu?
– Sim. Isso é uma briga de mulheres e você, como única representante, deve terminar.
Sem entender, Lúcia pegou as pedras e colocou dentro do círculo, conforme Odete indicou. Nesse momento, tudo em sua volta sumiu.
Estava em uma sala escura. Não havia nenhum reflexo de luz ou sinal de alguma janela. Sentiu algo passar rente as suas pernas. Levantou uma perna.
– Não se mova. – disse uma voz.
Um calafrio lhe percorreu o corpo. Cruzou os braços sobre o peito e foi surpreendida por um feixe amarelo e rosa. As pedras estavam no ar, se juntando. Olhos frios a encaravam. Ódio. Lúcia podia sentir o ódio profundo que lhe era dirigido e afligia sua alma, como se a apunhalasse. Sentiu um desejo de se atirar no chão, ficar na posição fetal, fechar os olhos e nunca mais acordar. Sem sentir, começou a se abaixar, para tornar realidade, o pensamento que se transformava em uma idéia fixa, quando ouviu um miado. O mesmo gato que a acordou no dia seguinte a pedra lhe encarava. Tinha olhos verdes.
Lúcia piscou, como se acordando. Ela já tinha visto aqueles olhos. A imagem de sua mãe surgiu em sua mente. Mas os olhos dela eram frios, desprovidos de sentimentos. Aqueles não. Eles tinham calor, um certo pavor, mas sem perder a força. Como a mulher do ônibus. Naquele encontro, ela não sabia, mas agora tinha a chave para se livrar da escuridão.
– Irina. – Balbuciou.
O choque foi intenso. João não conseguiu segurar Lúcia, cujo corpo tremia, como se entrasse em convulsão. Doca, encolhido em um canto da sala, tinha o olhar fixado nas três pedras grudadas no centro da mesa. Odete correu para Lúcia, que agora estava no chão.
João não entendia nada. No momento que Lúcia colocou as pedras na mesa, seus olhos viraram, ficando apenas um branco. Seu corpo primeiro tremeu e começou a cair. João tentou segura-la, mas quando as pedras ergueram-se sozinhas no ar e se juntaram, ele esqueceu momentaneamente da jovem, e quando percebeu, Lúcia havia sido jogada contra a parede.
Odete já estava ao lado de Lúcia, quando João conseguiu voltar a pensar. Foi até Doca e o pegou pela mão. Levando-o para junto de Lúcia, que continuava deitada, como se não conseguisse se mexer.
– Você está bem? – João pegou Lúcia pelos braços, levantando o seu tronco e encostando suas costas na parede.
– Estou. – Respondeu baixinho. Cruzando as pernas. - Nossa, que frio. – Começou a esfregar os braços.
– Você a viu?
– Sim, Doca. Eu a vi.
– O gato estava lá?
– Irina estava lá.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sorteio Série Mortal

Para quem não conhece essa série maravilhosa, essa é uma oportunidade e tanto.