quarta-feira, 29 de maio de 2013

Dica de filme: De Passagem


A mudança no cinema nacional nos proporciona encontrar surpresas agradáveis, como este filme de 2003 do diretor Ricardo Elias. De Passagem ganhou prêmios no 31º Festival de Gramado (incluindo melhor Filme), no 8º Festival de Cinema Brasileiro de Miami, entre outros.

A história mistura presente e passado de dois irmãos e um amigo, os três com nomes de presidentes norte-americanos: Jeferson, Washington e Kennedy. No passado, é véspera do dia em que Jeferson irá para o Rio de Janeiro estudar no colégio militar. Em uma brincadeira, os meninos acertam uma bola no carro de um traficante e como pagamento pelo estrago, precisam fazer uma entrega.

No presente, Jeferson retorna para São Paulo e parte do bairro de sua infância com Kennedy para fazer o reconhecimento do corpo do irmão.

A mescla de situações nos dois tempos expõe o peso e as consequências de cada escolha, além de mágoas, laços de família, amizade e preconceito.


De Passagem é um filme simples e agradável de assistir. Os diálogos diretos, sua verossimilhança capturam o telespectador que fica inevitavelmente curioso em saber o destino dos personagens.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Cadeira Vazia


          Silêncio. Nem o barulho do rádio relógio influencia na harmonia da casa. Acordar. Depois de um banho calmo vou cambaleando até a mesa onde está o meu Nescau pronto e um bolo de chocolate com calda ao qual prontamente começo a namorar. Paciência. Mastigo até o leite enquanto ouço, paralelamente, a moça do tempo e minha mãe comentando a crônica do dia. Estranhamento. Olho para a cabeceira da mesa e passo direto para a bergamoteira onde os passarinhos encontram-se a bicar os frutos ainda pequenos e verdes.
            Olhos para os lados, um sentimento que não consigo identificar, não é saudade, nem solidão, parece paz. Retorno um ano antes, mesmo não dividindo o mesmo banheiro qualquer demora a mais ganhava uma batida na porta. Não havia sorriso de bom-dia e sim um engole isso de uma vez e a TV com o som a milhão. Entrou em crise quando meu avô materno foi morar lá em casa, piorou quando me formei e não me mudei, era da opinião que um diploma não valia nada e sim um marido que desse dinheiro ao sogro.
            Sua face só mudava em um momento, quando saía para jogar futebol. No princípio eram duas horas de futebol, depois quatro, vivia junto com um vizinho as gargalhadas, surgindo assim o apelido tão odiado por ele "Pit Bicha e Pit Bitoca".
Adorava verificar se o carro alheio tinha gasolina, pegava emprestado e nunca recolocava o combustível. Fazia o mesmo com a cerveja, tomava a de todos, mas nunca pagava uma rodada. Se fazia de pobre mesmo ganhando três vezes mais do que as pessoas que os rodeavam. A loucura chegou ao ponto que começou a renegar comida em casa, dinheiro para o futebol não faltava, assim como a pose de ótimo marido e excelente pai (que dizia pagar tudo para a filha quando não dava um único centavo).
Um dia foi embora, sem beijo de despedida ou um último olhar para trás. Disse que iria ser feliz.
 Se o é, não sei, nunca mais entrou em contato e o alívio que senti me impediu de procurar. Reorganizei a vida, suas feições começam a desaparecer da minha memória, assim como o timbre da sua voz, na foto apenas um estranho. Tudo foi substituído por uma paz, uma paz que me acompanha desde o momento em que sentei na cadeira antes vazia.

Crônica escrita em 2007 no curso Formação de Escritores - Unisinos

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Coleção Alma – Bolsas para babar


A Louis Vuitton lançou a coleção Alma. Eu adorei as bolsas. Coloco abaixo algumas para quem quiser admirar, para conhecer toda a coleção, basta acessar o link http://www.louisvuitton.com.br/front/#/por_BR/Colecoes/Mulher/Destino-Alma/stories/Chic-on-the-Bridge


Os modelos são inspirados nas criações de Gaston Vuitton nos anos 1930.


As cores vão das mais vivas até as mais clássicas.


Abaixo o modelo na minha cor favorita.



domingo, 12 de maio de 2013

Objetos de Desejo


Para quem gosta de joias e acessórios, a nova coleção da Vivara está de encher os olhos.

Começo com uma das minhas peças favoritas, a pulseira Versalhes, feita em ouro amarelo e prata com pedras pretas.


A coleção begônia é feita em ouro rosa, e todas as peças são delicadas e elegantes.


As pérolas estão na moda, e esse colar é perfeito para quem gosta de um estilo mais clássico.
  

A Vivara lançou produtos em couro e relógios com sua marca. Eu, particularmente, adorei alguns modelos de carteiras, como as abaixo:



Para quem quiser conhecer as demais peças da coleção, basta visitar o site da loja: http://www.vivara.com.br/



sábado, 4 de maio de 2013

O comunicado



Carlos estava sentado na lanchonete, olhando com certo desespero para a porta, resolveu que não agüentava mais as cenas de ciúmes de Aline. Além disso, ela lhe tomava mais tempo do que desejava, não tinha mais a mesma liberdade de sair com os amigos, havia uma cobrança familiar para um compromisso mais sério e ele ainda era muito novo, estava com 30 anos, praticamente um adolescente. Como que acompanhando o seu pensamento Aline entrou na lanchonete, mas estranhamente sem o seu sorriso costumeiro.

            - Oi Carlos – sussurrou sem se aproximar para beijá-lo.
            - Oi Aline, sente-se.
            - Hum... formalidade?! O que houve?
            - Tenho algo importante a lhe falar.
            - Curioso, eu também.
           
            Por um momento os dois ficaram apenas se olhando, como se um espera-se pelo outro.

            - Primeiro as damas.
            - Recebi um convite hoje...
            - Que tipo de convite?
            - Do tipo irrecusável.
            - Isso quer dizer que você já aceitou.
            - Sim.
            - E o que isso significa?
            - Significa que em três meses estarei morando em Londres, realizando a minha pesquisa.
            - Parabéns, este era o seu grande sonho meu amor! Quando vamos?
            - Eu vou, você fica. Acredito que você não tenha estrutura e maturidade para conviver comigo durante os próximos quatro anos, ou quem sabe até a vida inteira – dando uma pausa para respirar Aline olhou diretamente nos olhos de Carlos – Estou terminando o nosso relacionamento.
            - Mas co-como? Nós temos tantos planos, você sempre diz que me ama, como é que agora você me abandona assim?! Como vou viver sem você?
            - Você vai viver bem... sempre disse que o meu ciúme te sufocava, reclamava do pouco tempo com os teus amigos, que era jovem demais para ficar preso a uma única mulher... pois bem, com este convite ambos realizaremos nossos sonhos: eu irei para a Europa realizar o meu doutorado e você poderá jogar bola todos os dias assim como comer uma mulher diferente em cada um.
            - Aline, que palavreado, isso não é jeito de resolver nossa situação.
            - Nossa situação já está resolvida, vou te deixar sozinho para pensar e depois você vai lá em casa pegar as suas coisas. Mas tenho certeza que você irá entender e terminaremos como amigos.

            Como em um reflexo de suas palavras, Aline levantou e foi embora. E agora, pensou Carlos, o que será da minha vida sem Aline, a única mulher que já amei? A mulher que escolhi para ser a mãe dos meus filhos? Com lágrimas nos olhos Carlos terminou de comer seu sanduíche enquanto observava de forma deprimente os casais de namorados que o rodeavam.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O caso da sobremesa de amora



Conta a boca pequena que tudo não passava de uma desculpa, mas o homem em questão, já na idade dos “enta”, afirma que tudo foi culpa da sobremesa de amora.

Em uma noite quente de verão, especificamente no terceiro dia do mês, todo um planejamento havia sido realizado: jantar a luz de vela com um cardápio elaborado por um importante chef internacional, a reserva da suíte temática de um motel recém-inaugurado, champagne e cueca samba canção de seda.

Atendendo um pedido dele, a namorada comprou uma lingerie rendada e a escondeu sobre um justo vestido vermelho. Os sapatos de saltos finos e os cabelos lisos e loiros presos em um coque solto, apenas acentuavam a sensualidade que ia dos lábios carnudos até os pés protegidos por finas meias de seda.

Enquanto ele fazia o toque da campainha soar e batia levemente o pé direito contra o piso branco, os olhos da dama avaliavam a figura exibida no espelho. Com um leve aceno de cabeça, aprovando o que via, ela caminhou lentamente até a porta e o observou pelo olho mágico.

Quando a porta se abriu, ele sentiu o estomago dar a primeira volta, ficando com o rosto tão rosa quanto a sua camisa. Com um gesto que deveria ser suave estendeu o buque de flores. Rosas vermelhas. Quase tão vermelhas quando a cobertura de amora que cobria o sorvete que ele havia comido meia hora antes.

Ela o convidou a entrar, enquanto ele observava os objetos da sala, ela colocava as flores em um vaso de vidro. Por um breve momento considerou pedir para usar o seu banheiro, mas quando ela avisou que estava pronta, ele acreditou piamente que o seu mal-estar iria passar.

O restaurante estava relativamente cheio. Antes de entregar a chave do carro ao manobrista quase sugeriu mudarem os planos, mas ela estava tão encantadora que sabia não haver perdão. Com um suspiro saiu do carro e foi até o lado do carona, abrindo a porta e oferecendo o braço.

Seus olhos analisavam sem vida as opções no menu, ela com um sorriso o pressionava levemente com um “está indeciso, amor?”, enquanto o maitre demonstrava impaciência pelo fato de ele estar a dez minutos na mesma página. Sem nem mesmo olhar o preço, escolheu o primeiro item e se arrependeu imediatamente ao ver a boca aberta de sua companheira.

A lagosta era quase tão vermelha quanto o vestido que ela usava, observava o bicho sem ter a mínima ideia de como a mesma era degustada. Ela sorriu gentilmente enquanto o maitre retirava com facilidade a carne de dentro da casca e depositava em seus pratos. Com desconfiança, ele cortou um pedaço pequeno e o mastigou lentamente, ao engolir, sentiu a parte central do seu corpo dar um giro de 360 graus e teve que apertar as mãos com força para nada acontecer.

Notando que ele não comia, ela questionou se ele não estava gostando e seu rosto ficou corado ao receber como resposta que ele estava inebriado pela presença dela e que o desejo que ele sentia impedia que os outros sentidos procurassem algo diferente de sua pele, seu cheiro ou gosto.

Mesmo encantada com a resposta, ela continuou o jantar, solicitando depois uma torta de amora como sobremesa ao qual tentou delicadamente colocar na boca do homem que via com desespero o pequeno garfo se aproximar.

Após uma hora e meia de aflição, finalmente saia do restaurante. O valor da conta foi quase tão doloroso quanto às milhares de facas espetadas na sua barriga. Sentou no carro pronto para dizer já é tarde quando ela colocou a mão sobre a sua coxa e apertando-a questionou onde ele a levaria agora.
Com um sorriso amarelo, se direcionou ao motel onde havia reservado a suíte. Durante o caminho, ela lhe seguiu fazendo carinhos, e acreditava piamente que os olhos vidrados do companheiro eram de pura excitação. Ele tentava respirar calmamente, enquanto serrava os lábios e tentava ignorar o gosto de amora que lhe vinha até a garganta.

Ao entrar no quarto, seus olhos involuntariamente procuraram pelo banheiro, notando o seu olhar, a mulher se aproximou e o puxou pela mão até o banheiro. Calmamente, ela ligou a banheira de hidromassagem, enquanto esta começava a encher, tirou-lhe as roupas e indicou que ele deveria se sentar na mesma.

Foi com alívio que ele a viu sair do banheiro e ir ao quarto ligar o som. Mas neste breve instante de relaxamento tudo desandou e quando ela retornou a cena era tão grotesca que nem com lobotomia ela iria esquecer.

A vergonha demorou uma hora para passar, quando ele finalmente foi até o quarto, encontrou-a dormindo no meio da enorme cama, seus olhos abriram levemente quando ele se aproximou e docemente ela perguntou se ele havia melhorado. Após um aceno positivo, ela se levantou e colocou os sapatos. 

No caminho ele relatou a história do sorvete de amora, ela lhe disse para não se preocupar, mas não o convidou para acompanha - lá até o apartamento. O homem ainda hoje acredita em 99% do tempo que ela lhe perdoou, mas uma pulga lhe surge atrás da orelha quando em um dos encontros mensais ela lhe oferece sorvete com cobertura de amora.