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A Joana quer ter o direito de andar de carro, sem pegar
tranqueira. Se sente injustiçada ao ser multada ou ver seus amigos receberem
multas em uma fiscalização que não se preocupa em orientar. Mas sempre
ultrapassa a velocidade máxima, para na faixa de pedestre, estaciona em local
proibido e adora passar um sinal vermelho.
O Cláudio gosta de andar de bicicleta. Participa de todas as
passeatas pelo respeito ao ciclista. Fica revoltadíssimo quando algum motorista
corta a sua frente ou um amigo é atropelado. Mas adora se atravessar em vias de
grande circulação, andar na contramão ou até mesmo na calçada, quase
atropelando os pedestres.
Mariana depende do ônibus. Acha o valor da passagem abusiva,
visto que sempre se sente uma sardinha na ida e na volta do trabalho. Mas mesmo
sendo jovem e saudável, frequentemente utiliza o banco preferencial, virando o
rosto quando alguém que realmente necessita se aproxima. Também adora ficar na
porta, mesmo descendo no final da linha.
Valter é adepto a caminhada. Exceto em dias de chuva,
procura ir a todos os lugares a pé. Fica indignado com carros, motos e
bicicletas, que parecem ignorar a existência do pedestre. Mas ele nem sempre
usa a faixa de segurança ou observa que o sinal está vermelho para ele.
Dona Célia sempre reclama dos alagamentos no dia de chuva. É
a primeira a pedir para o neto fotografar, liga para as rádios e acha o fim dos
tempos pagar um horror de imposto para não conseguir colocar o nariz na rua.
Mas é a primeira a jogar os folhetos que recebe na rua no chão, não separa o
lixo orgânico do seco e vota em candidato que há muito não faz nada.
O Alexandre acredita piamente que os motoristas de carro
deveriam ter mais cuidado com os motociclistas, já está cansado de ver amigos e
colegas quebrados devido a acidentes bobos no trânsito. Mas ele adora cortar a
frente dos carros, ameaçar quebrar o espelho retrovisor ou bater e se fazer de
coitado, nunca pagando pelo prejuízo alheio.
Paola é amiga dos animais e se revolta ao ver a imagem de
qualquer bicho maltratado. Chora quando um dos seus cachorros de rua morre, e
está sempre participando de trabalhos voluntários. Mas não respeita as regras
do seu condomínio que proíbem que o bicho ande em áreas sociais. Fica ofendida
quando um de seus bichos tenta morder uma criança e o pai a repreende. Tem o
hábito de não juntar as fezes que os seus dois cachorros deixam a cada passeio.
João sempre quis ser pai e monta em um porco espinho cada
vez que um colega bate em um dos seus filhos ou recebe um alerta do local onde
está sendo atendido. Mas ele tem por hábito deixar os filhos correndo dentro
dos estabelecimentos, mesmo quando a risco em relação à segurança. Deixa as
crianças se jogarem no chão e gritarem, e dá risada quando são eles que
machucam outros pequenos.
O que estes exemplos de pessoas tem em comum? Todos
acreditam nos seus direitos. Reclamam quando se sentem injustiçados. Mas esquecem
de que o seu direito acaba quando começa o do outro. Neste individualismo
selvagem, onde vamos encontrar outros estereótipos, ninguém mais é santo. Em
uma terra de ninguém, todos acreditam que o mundo gira em roda do próprio
umbigo.
Não adianta reclamar, se nada se faz. Temos direitos, sim!
Mas também possuímos deveres. Não é a toa que temos várias leis e órgãos, e
nada se soluciona. Lembrando um velho ditado popular “Faça aos outros o que
gostaria que fizessem a você”, uma coisa simples, mas que pode fazer uma
sociedade inteira viver em paz.