E nesta semana a Net liberou o Telecine e a noite de domingo
foi salva por dois filmes diferentes, mas muito bons.
Começo com o brasileiro De Pernas pro Ar 2, uma mistura de
DR* com mulher bem sucedida profissionalmente tendo como pano de fundo uma loja
de produtos eróticos. O filme é uma
comédia bem estruturada, com ótimo elenco e cenas bem engraçadas.
Mas o que me chamou a atenção na história foi a questão do
apoio (ou falta dele) quando a mulher atinge sucesso profissional. A personagem
Alice incorpora tudo o que é exigido das mulheres hoje: ser boa profissional,
boa mãe, boa esposa, estar em forma... a questão é ter tempo para administrar
tudo.
E entre uma risada e outra fica a pergunta: o que priorizar?
No que investir? Quando lutar e quando desistir? Conforme uma personagem da
história, o que atrapalha são os homens. E um novo leque de dúvidas se abre:
Qual homem atrapalha? Aquele que não incentiva a esposa? O que não ajuda em
nada? O que exige demais?
Quem disse que comédias não nos levam a pensar.
Logo após veio “Impossível”, filme espanhol que conta a
história real de uma família que sobreviveu ao tsunami na Tailândia. O filme que
teria tudo para ser piegas é emocionante, com exceção da propaganda de uma empresa
de seguros no final, que ficou parecendo até deboche ao ser anunciada em tom
alegre pelo agente enquanto a família se arrastava em trapos.
No momento do desastre a família estava na piscina do
resort, a água invade e os separa em dois grupos, a mulher com o filho mais
velho e o homem com os dois pequenos. O caminho dos dois primeiros é bem mais
difícil. Ela se machuca, e graças à ajuda de moradores locais, consegue chegar
ao hospital. Para que o filho mais velho se distraia, ela o manda ajudar os
demais. O menino corre pelos corredores lotados, gritando por nomes e tentando
fazer conexões. Quando retorna, não encontra mais a mãe. Ficando em uma barraca
junto com outras crianças, sem lembrar o telefone de ninguém que esteja fora
dali.
O pai acaba deixando os menores com um grupo para sair em
busca da esposa e do mais velho. No seu caminho muito choro enquanto se pega
carona de um ponto a outro. Corpos ensacados, hospitais e barracas estão
espalhados no que sobrou de um paraíso.
O filme termina, mas o coração não desaperta. Existem
pessoas que o ponto de interrogação continua. E isso é mais doloroso por saber
que nada é ficção. Talvez por isso a imagem com o bilhete de nós estamos na
praia acabe nos acompanhando por muitas horas.
*DR = Discutir a relação