Nojo, nojo, nojo! Ela estava tapada de nojo. Era quase
possível ver a fumaça que saía pelas suas orelhas. Ao mesmo tempo em que se
parabenizava mentalmente por ter controlado a língua e ter dado uma resposta
mais simples, onde apenas os inteligentes entenderiam, por outro achava um
desaforo tremendo.
Batia os dedos e ria de forma debochada. Dizer como ela
deveria se comportar era fácil, mas ninguém se oferecia para lavar a louça da
tua casa. Aliás, não se ofereciam para nada, só ligavam para pedir, pedir,
pedir.
Egoístas que viviam na volta do próprio umbigo. Vermes que
se alimentavam da carne alheia, mas precisavam de ajuda para ir de um lado ao
outro do corpo. Mesquinhos que tentavam tirar até centavos acreditando que
levariam tudo ao túmulo como os antigos egípcios. Invejosos que se agarravam a
antigas crendices por não controlar o brilho de angústia ao ver a felicidade
alheia.
Ok, ela precisava se acalmar. Lembrou-se de respirar
profundamente, afinal, via as criaturas uma vez na vida e outra na morte. Não,
definitivamente eles não mereciam que desperdiçasse tanta energia. Só precisava
ter em mente para nunca encontra-los na TPM, pois o risco de chama-los de
filhos da puta era grande.
Abriu a boca e gritou. Sua mãe se assustou. O irmão caiu da
cama. O que havia de errado? Nada. Agora não havia mais nada. Raiva extravasada,
coração leve, língua controlada. Hora de levantar para um novo dia.
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