sábado, 26 de junho de 2010

Capítulo 1

Porto Alegre, nos dias de hoje

– Não sou nem de direita nem de esquerda – declarava Lúcia em alto bom som – estou do lado de quem me proporcionar um bom salário, casas, carros e claro, viagens anuais a Paris.

–Não posso continuar ouvindo isso – reclamou o colega que sentava a sua frente – quem a escuta, pensa que é uma burguesa e não uma jovem que estuda e trabalha.

– Ai que você se engana – comentou uma morena mordendo a tampa de uma caneta – se ela fosse burguesa ela estava fazendo e não falando.

As cinco mulheres que estavam na sala riram. Junior deu os ombros e fixou seu olhar no relatório que se apresentava na tela. Já estava acostumado aos papos femininos, na segunda: tpm, terça: trânsito, quarta: tv, quinta: desejo de ficar rica e sexta: homens. Só tinha que agüentar mais três horas de sonhos frustrados e um dia sobre homens sarados e charmosos para chegar a sua cerveja.

– Deixa essa mala pra lá – brincou uma das garotas – me diga Lúcia, aonde iremos comemorar o seu aniversário?

– Ai Ane, hoje todas temos aula.

– Mas hoje podemos abrir uma exceção, não é Renata?

A morena concordou, tirando a caneta da boca.

– Claro! Clarissa e Soraya já reservaram uma mesa na Calçada da Fama.

– Não – negou Lúcia – Lá é muito caro.

– Uma vez na vida outra na morte não irá te deixar miserável – gritou Clarissa – Além disso... a fatia de bolo é por nossa conta.

– É só não encher a cara – piscou Soraya.

Lúcia não conseguiu resistir, ligou pra casa e avisou a mãe. Pensou ter ouvido um suspiro de alívio, dessa forma desobrigava a mãe a gastar com qualquer coisa. Não que a mãe fosse avarenta, longe disso. Mas, desde a morte de seu pai, elas viviam com dificuldades financeiras. E ainda havia o irmão, que com apenas quatorze anos, não podia trabalhar e estava tendo que se readaptar a nova realidade.

O relógio bateu seis horas, Junior conversou rapidamente com Renata e sumiu. Lúcia se dirigiu ao banheiro. Quando começou a trabalhar na J&J consultoria, ha dois anos atrás, se apaixonara por Júnior, mas esse nunca tomara conhecimento de sua presença. Soltou os cabelos castanhos e abriu a necessarie. Enquanto passava o lápis para destacar os olhos também castanhos, lembrava de Clarissa dizer que achava que ele era bicha. Quando Ane discordou rapidamente, acabou em uma armadilha e confessando um relacionamento relâmpago com o coordenador.

“Logo em seguida ele arrumou uma gringa em Bom Retiro, então ele fica galinhando nos bares durante a semana e nos sábados e domingo ele desfila com sua loira metida a top model”.

Observando o corpo magro no espelho, Lúcia sabia que não era feia, mas para modelo também não servia. “O que adianta? Ele nunca vai me enxergar mesmo. Caia na real, você está fazendo 26 e não dezesseis” reclamava baixinho apontando o dedo para a própria imagem “se eu continuar me criticando assim, daqui a quatro anos será uma balzaquiana solteira e totalmente encanada”.

– Vamos garota – disse Soraya abrindo a porta do banheiro – Já está linda. Se fizer mais alguma coisa, não vai sobrar nenhum pra mim.

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