terça-feira, 16 de abril de 2013

A Procura



A mulher entra arrastando os pés nas velhas sandálias, estava cansada e com o olhar triste. Olhou para todos os lados como que se procurasse algo até pousar os olhos no delegado.

O delegado encontrava-se em sua mesa bem sentado, pensando em quais técnicas de tortura iria aplicar para dar uma lição aos bardeneiros que sobraram. Ontem haviam prendido vários deles, três encontravam-se mortos, prontos para serem jogados em uma vala qualquer.

- Boa tarde, seu Doutor.
- Pois não?
- Estou procurando o meu filho... passei em quase todas as delegacias da cidade e na última me disseram que ele deveria estar aqui.
- Seu filho é ladrão ou o que? – perguntou o delegado de maneira rude.
- Meu filho é estudante doutor... não é ignorante como eu. Muito menos bandido. Mas ele sumiu desde ontem, foi para a faculdade e não voltou. Falaram que ele estava no meio de um protesto, mas ele não é disso não.

De relance veio à mente do delegado um jovem cabeludo que dizia jurar por tudo o que era mais sagrado que ele não estava no protesto, estava sim caminhando para a parada de ônibus quando se viu no meio do tumulto. A atitude chamara atenção, já que os outros faziam questão de agredir os policiais. Um covarde que não honra o que tem no meio das pernas foi a opinião do pelotão enquanto o rapaz chorara implorando para que os choques parassem.

- Ele se chama Ricardo Oliveira, mas também atende por Cabeça, porque é muito inteligente, é um menino nem baixo nem alto, bem magro, com os olhos saltados – continuou a senhora – tem os cabelos compridos e anda sempre com uma sacola cheia de livros.

Neste momento o delegado teve certeza de que a mulher falava do mesmo rapaz que havia sido preso no dia anterior e morto na sessão de tortura.

- Não prendemos ninguém com essa descrição não senhora. Provavelmente seu filho está fazendo arruaça com algum outro colega ou saindo com alguma moça.
- Isso eu tenho certeza que não doutor, meu filho é um bom menino e sempre diz para onde vai. Ele está estudando direito para ser doutor como o senhor e comprar uma casa pra nós...

O delegado levantou a mão interrompendo

- Minha senhora! Não tenho tempo para ouvir a história da sua vida, estamos cheios de chamados e precisamos dar apoio contínuo ao exército. A senhora não quer atrapalhar a segurança da nação só para que sejam ouvidas as suas histórias?
- Não doutor... quero apenas achar o meu filho, o senhor tem certeza que ele não está aqui?
- Não, minha senhora, não vi ninguém parecido com o seu filho. Agora vá para casa e espere, se ele é tão bom, logo irá aparecer.
           
A senhora saiu curvada, como se carregasse o mundo em suas costas. Suas buscas seguiram até o entardecer do dia seguinte em hospitais, quartéis, faculdades e ruas. Ao chegar em casa recebeu a notícia de que o seu filho havia sido encontrado morto em uma vala. Como o delegado afirmou, ele havia aparecido logo, mas não dá forma que uma mãe deseja.

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