A mulher entra arrastando os pés nas velhas sandálias,
estava cansada e com o olhar triste. Olhou para todos os lados como que se
procurasse algo até pousar os olhos no delegado.
O delegado
encontrava-se em sua mesa bem sentado, pensando em quais técnicas de tortura iria
aplicar para dar uma lição aos bardeneiros que sobraram. Ontem haviam prendido
vários deles, três encontravam-se mortos, prontos para serem jogados em uma
vala qualquer.
- Boa tarde,
seu Doutor.
- Pois não?
- Estou
procurando o meu filho... passei em quase todas as delegacias da cidade e na
última me disseram que ele deveria estar aqui.
- Seu filho
é ladrão ou o que? – perguntou o delegado de maneira rude.
- Meu filho
é estudante doutor... não é ignorante como eu. Muito menos bandido. Mas ele
sumiu desde ontem, foi para a faculdade e não voltou. Falaram que ele estava no
meio de um protesto, mas ele não é disso não.
De relance
veio à mente do delegado um jovem cabeludo que dizia jurar por tudo o que era
mais sagrado que ele não estava no protesto, estava sim caminhando para a
parada de ônibus quando se viu no meio do tumulto. A atitude chamara atenção,
já que os outros faziam questão de agredir os policiais. Um covarde que não
honra o que tem no meio das pernas foi a opinião do pelotão enquanto o rapaz
chorara implorando para que os choques parassem.
- Ele se
chama Ricardo Oliveira, mas também atende por Cabeça, porque é muito
inteligente, é um menino nem baixo nem alto, bem magro, com os olhos saltados –
continuou a senhora – tem os cabelos compridos e anda sempre com uma sacola
cheia de livros.
Neste
momento o delegado teve certeza de que a mulher falava do mesmo rapaz que havia
sido preso no dia anterior e morto na sessão de tortura.
- Não
prendemos ninguém com essa descrição não senhora. Provavelmente seu filho está
fazendo arruaça com algum outro colega ou saindo com alguma moça.
- Isso eu
tenho certeza que não doutor, meu filho é um bom menino e sempre diz para onde
vai. Ele está estudando direito para ser doutor como o senhor e comprar uma
casa pra nós...
O delegado
levantou a mão interrompendo
- Minha
senhora! Não tenho tempo para ouvir a história da sua vida, estamos cheios de
chamados e precisamos dar apoio contínuo ao exército. A senhora não quer
atrapalhar a segurança da nação só para que sejam ouvidas as suas histórias?
- Não
doutor... quero apenas achar o meu filho, o senhor tem certeza que ele não está
aqui?
- Não,
minha senhora, não vi ninguém parecido com o seu filho. Agora vá para casa e
espere, se ele é tão bom, logo irá aparecer.
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