quinta-feira, 19 de maio de 2011

Doce só no nome



Há nove anos fui estagiária da Justiça Federal. Um dia, durante o intervalo de um seminário que estávamos tendo, me aproximei de uma das janelas para ver qual era a vista do andar mais alto daquele prédio. Se de um lado víamos o Guaíba, do outro um agrupamento de papelão e madeira, que nem de longe poderiam ser chamados de lar. As crianças corriam de um lado para o outro. Muitas tentavam ganhar alguma moeda dos motoristas que estacionavam nas ruas próximas. Homens escorados em carroças, identificados imediatamente como os mesmos que nos davam medo e nos faziam acelerar o passo quando fazíamos o caminho a pé.
Nestas últimas semanas veio a notícia do fim da vila chocolatão, que de doce só tinha o nome. Lembrei-me de uma menina muito bonita que circulava sempre na hora em que eu estava chegando. Com os olhos muito claros e cabelos loiros e cacheados, ela literalmente saltitava (algumas vezes no capo dos carros). Mas por mais infantilidade e alegria que suas ações pudessem passar, eu não conseguia encontrar isso refletido no seu rosto, muito menos no seu sorriso.
Fiquei pensando que fim ela levou. Se continua viva. De que forma essa mudança está influenciando na sua rotina. Pois ela deve ser uma adolescente agora... não tendo chegado aos vinte anos ainda. Mas ao contrário dela e de seus amigos, espero sinceramente que essa nova geração tenha uma infância mais sadia brincando entre os pátios do que catando moeda no meio de ruas apertadas. Pois o futuro só vira presente se aproveitamos todas as fases da vida.

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