quarta-feira, 18 de maio de 2011

Janelas



Era quase como um lamento. Não lhe era permitido segura-las. Por isso fluíam com uma rapidez espantosa, formando uma estrada negra em uma pele muito branca. Encostar a testa no vidro da janela só serviu para acentua-las. Em sua volta, várias pessoas questionaram o por que. Mas ela simplesmente não sabia dizer. Uma tristeza profunda lhe apertava o peito. Uma incerteza paralisava o cérebro. Um bolo de mágoas lhe bloqueava a garganta.
A única coisa que se sabia é que ela havia amanhecido assim. Tentaram lhe fazer sentar. Quem sabe comer uma fatia de bolo. Ou até mesmo retornar ao quarto, que para o único homem da casa, deveria ser o lugar de onde nunca deveria ter saído.
Com o olhar fixo no horizonte, algo lhe dizia que nada do que planejava iria acontecer. Não sabia a razão do medo. Nem de onde vinha estranha certeza. Pedia sinais. Orava por proteção. Mas nem quando opacos raios de sol escapavam entre as nuvens, a esperança lhe voltava ao olhar.
Aquele foi o primeiro de muitos dias. E realmente, tudo o que a menina-mulher havia planejado, não havia se concretizado. Não por força do destino, mas pela razão da moça continuar encostada no vidro da janela, agora com as roupas úmidas pelas próprias lágrimas.
Sua morte gerou sentimentos conflitantes. As empregadas suspiravam aliviadas por finalmente poderem limpar o local. O cunhado finalmente pode ler o seu jornal em paz. O noivo corria, em dúvida entre cancelar os contratos ou arrumar uma nova esposa. E a mãe preferiu se aproximar da janela do quarto da filha e chorar, entendendo pela primeira vez a dor que ela sentia.

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