quarta-feira, 27 de abril de 2011

Janjão nos dias de hoje

Na coletânea Papéis Avulsos de Machado de Assis tem um diálogo entre pai e filho, onde o primeiro comenta que Janjão, agora com vinte e um anos, deve seguir um ofício e este pergunta humildemente sobre o que fazer. O pai responde que este deve ser um medalhão e ai se segue uma brincadeira quando a postura da sociedade, tratamentos, forma de crescer e ironia, fazendo referencia a pessoas como Voltaire e concluindo com uma comparação do diálogo ao Príncipe de Machiavelli.
Fiquei pensando se Janjão fosse reescrito para a realidade atual. Primeiro que com vinte e um anos ele já deveria estar cursando alguma faculdade, visto que a cada dia nossos jovens são obrigados a decidir mais cedo o que querem ser quando crescer.
Provavelmente Janjão não estaria festejando ao lado do pai, a menos que fosse muito tímido. Ele estaria enchendo a cara em algum lugar ao som de um sertanejo universitário, cantando as meninas e nem se preocupando que depois iria voltar para casa dirigindo.
Dificilmente ele perguntaria ao pai que ofício seguir ou escutaria as suas palavras, afinal, ele já sabe tudo, qualquer coisa é só colocar no Google.
Se a política na vida do brasileiro não mudou, a falta de limites entre crianças e adolescentes está cada vez pior. Não existe nada mais insuportável do que ver uma criança se atirar no chão de uma loja aos berros para convencer os pais a comprarem determinado objeto. E como é triste ler uma reportagem sobre a agressão de um professor em uma aluna e ficar questionando se aquilo é mentira ou verdade.
Naturalmente não apoio o domínio totalitário, onde a criança é feita de capacho com a justificativa que os mais velhos sempre estão com a razão. Mas é aquela história, nem oito nem oitenta, senão os jovens tiranos de hoje serão os adultos perdidos de amanhã, e sem metade do respeito demonstrado por Janjão pelo seu pai.

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