terça-feira, 26 de abril de 2011

Relendo o Alienista

Para participar da reunião do clube de leitura, iniciei a leitura de Papéis Avulsos de Machado de Assis. O livro trás uma coletânea de histórias, sendo que a primeira é o Alienista, ao qual eu havia lido no frescor dos meus dezesseis anos.
Posso dizer que Simão Bacamarte e sua busca incessante pela loucura continuam me atraindo (e divertindo), a diferença agora é a visão de mundo, pois cada vez mais verifico que passa ano, década, séculos e o país continua o mesmo, e a realidade do personagem consegue ainda ser melhor do que a nossa.
O personagem Simão ilude o povo, internando em um primeiro momento os que apresentam alguma patologia (sobrando até para os que cometem os sete pecados capitais), depois começa a considerar loucos os que não apresentam nenhuma distorção (o homem que encontrou os 74 mil reais recentemente em um ônibus e devolveu para o seu dono seria imediatamente internado), até concluir que a pessoa ideal para o objeto dos seus estudos era ele mesmo. Mas até a sua internação, não havia quem realmente o confrontasse, dando a ele o poder de definir o direito de ir e vir de cada um dos cidadãos da pequena localidade.
Hoje vivemos uma realidade paralela, em que políticos aparecem na TV e dizem que tudo está indo muito bem. O povo tem mais dinheiro, poder de compra e a classe média está cada vez maior. Mas ao colocar o nariz para fora do portão a primeira coisa é tentar andar nas ruas, pois temos um povo endividado em parcelas ao opta em pagar por um carro popular o valor de um carro médio por que o transporte público é de pior qualidade. O para e anda transforma percursos de minutos em horas e consome a gasolina de um mês em poucos dias.
Também tem a questão das mobilizações. A gasolina está alta? Uma criança foi abandonada? O sistema de saúde não consegue atender a todos? Isso não é problema, todos continuam sentadinhos em suas cadeiras. Mas se algum animal é perdido ou morto, ondas de protesto chegam aos jornais. Se o time de futebol não segue no campeonato, torcedores se colocam a frente de portões e reivindicam aos berros o direito de serem campeões.
Com isso nós também estamos presos em casas verdes, aguardando a permissão do outro para ir e vir, mas no lugar de estarmos aglomerados no mesmo prédio, dividimos as mesmas grades, falta de vontade e o pouco espaço. Creio que se Simão Bacamarte fosse transportados para os dias atuais, não demoraria tanto tempo para chegar as suas conclusões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! É bom ter você por aqui. Em breve o seu comentário será postado. Dúvidas e sugestões são sempre bem recebidos.