domingo, 30 de janeiro de 2011

Capítulo Vinte e Três

Belo Horizonte, Cidade Jardim

– Coloquei um anúncio nos principais jornais de cada estado.
– Ótimo. Agora só nos resta aguardar.
Vivian mexia as mãos nervosamente. Ler as anotações de Elvira só servia para deixa-la mais aflita. Sua mãe devia saber, porque nunca lhe contou? Não se sentia preparada para aquela situação. Uma coisa era desmanchar maldições para salvar estranhos, outra, era para salvar sangue do seu sangue.
– Quanto tempo temos? – Antônio lhe chamou para o mundo real.
– Não sei. Talvez mais uma semana. O livro não especifica data. Minha mãe que me disse que o prazo era dois de novembro.
– Dia de finados. Interessante.
– Também acho. Mas também é o dia do aniversário de Elvira. Apesar dos seus pais terem lhe registrado como nascida no dia quatro.
– Você está brincando?
– Não. Naquela época eles podiam fazer isso. Provavelmente ela deve ter nascido em casa, pelas mãos de alguma parteira. E claro que a herdeira de uma tradicional família mineira não teria como data de nascimento o dia de finados.
– Mas na verdade, temos três semanas.
– Temos que ter um tempo extra. Não sabemos o que pode acontecer nesse dia. Quanto mais cedo desmanchar tudo isso, melhor.
– Tem uma coisa que eu não entendo... o dia é o do aniversário dela, mas por que esse ano?
– Não existe uma definição de ano, o que diz no livro... espera um pouquinho. – Vivian foi até o quarto e retornou com o livro de capa preta na mão. Colocou os óculos de leitura e abriu a contracapa – Aqui está “Quando todos os herdeiros tiverem nascido, o ano será bissexto e os escolhidos encontraram o símbolo de minha salvação.”.
– O que isso significa?
– Significa que todos os bastardos já nasceram. As famílias estão fechadas, podemos assim dizer.
– O símbolo?
– O símbolo só pode ser a maldita pedra. A mesma que ela utilizou para tentar acabar com Irina. De alguma forma, essa pedra deve ter parado na mão dos herdeiros de sua meia-irmã.
– Mas você também é sua parenta? Não deveria ter a pedra também?
– Não. Ela sabia que eu estaria aqui. A culpa foi da minha avó, em dar a luz a uma bastarda e ensinar a magia. Se madame Elvira nunca tivesse visto o livro amarelo, nada disso teria acontecido.
– Ninguém teria morrido. Pelo menos não da forma como conhecemos.
– E ela mesma teria sido feliz. Duvido que Carlos tivesse se casado com a tia. Madame Elvira encontrou a própria desgraça, mas não aprendeu com isso. Sua loucura nos persegue mesmo após a morte.
– Nossa. Seus filhos podem ser afetados?
– Não. Graças a Deus. Meu marido não imagina do que a sua caxumba recolhida nos salvou. Como as crianças são adotadas, elas não possuem o meu sangue. Estão livres da maldição de madame Elvira.
– Você vai contar isso a eles?
– Não. Eles não sabem que a minha família mexia com esse tipo de coisa. Gabriela, como cientista, ficaria horrorizada.
– Sei que parece covardia. Mas será que posso ser afetado?
– Não. Você não pode. Sua mãe era filha de um empregado da casa. Esse sangue maldito não corre em suas veias.
– Desculpe. – O rosto de Antônio apresentava uma leve vermelhidão nas bochechas.
– Não fique envergonhado. Eu também sinto medo. Não quero morrer agora, tenho muita coisa para fazer ainda. – Por um momento, Vivian sorriu, com a imagem dos seus filhos surgindo em sua mente. – Quero ver os meus netos nascerem, correrem pela casa. Ver o casamento da minha filha, ter uma terceira, quarta, quinta lua-de-mel com meu marido.
– E você vai fazer tudo isso, Vivian.
– Espero que sim, espero que sim...
– Você não quer me apresentar a cidade... enquanto aguardamos os herdeiros?
– Claro. Até por que, um pouco de distração só pode nos fazer bem. Não podemos esquecer de comer pão de queijo.
– Com certeza. Vou lá pegar o carro.

Vivian foi buscar um casaco e guardar o livro. Após coloca-lo em uma gaveta, abriu sua bolsa e pegou a carteira, ficou um tempo olhando a foto de sua família e rezou.
– Vamos Vivian!
– Estou indo. – colocou o casaco e murmurou – Mãe, permita que eu veja os meus filhos mais uma vez.

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