terça-feira, 30 de agosto de 2011

Robertinho

Roberto descascava a laranja lentamente. Tinha consciência plena que estava fazendo hora, mas desde que Roberval havia virado seu subordinado no trabalho, seus instintos mais primitivos haviam aflorado. Durante todos os quarenta anos de vida achara que essa história de antipatia era coisa de mulherzinha, mas nas últimas semanas descobrira que possuía um ódio mortal pelo cidadão.
Não que Roberto fosse grande coisa, ele era um homem comum, com pretensões comuns. Seu objetivo principal era realizar um bom trabalho e receber o seu salário no final do mês. As seis da tarde, ele ia caminhando para casa, onde ajudava sua esposa com a janta e brincava um pouco com os filhos.
Roberval era um aposentado que resolvera voltar à ativa. Mais perdido que cusco em tiroteio, se arrastava pelos corredores, colocava a mão no ombro como se fosse íntimo de todos e atrapalhava reuniões para dizer asneiras. Um bolão já havia sido criado, onde muitos acreditavam que ele nunca havia trabalhado na vida, outros diziam que ele era um ator contratado para testa-los. Mas a vítima principal era Roberto, ou Robertinho como Roberval o chamava.
Cada vez que Roberto escutava a palavra Robertinho, seus olhos arregalavam, as mãos formigavam e o coração acelerava. Ele era um homem com um metro e oitenta de altura, chefe de uma equipe com vinte homens. Mesmo sendo mais jovem que Roberval, sentia necessidade de respeito. E era por isso que o inho lhe fervia o sangue nas veias.
Inventou várias histórias, deu inúmeras indiretas, mas nada, absolutamente nada resolvia aquela situação. Até aquela tarde na copa da empresa.
Roberto estava partindo sua laranja ao meio quando Roberval entrou e com um sorriso nos lábios pronunciou “Robertinho, estou com um probleminha com o rapazinho do almoxarifado”.
Os detalhes se perderam entre as lendas urbanas que circulam nos corredores de qualquer empresa. Mas o fato é que o Nestor, rapaz do almoxarifado, sabendo que Roberval iria fazer fofoca a seu respeito, correu para a copa conversar com Roberto antes que o dito o fizesse e se deparou com o chefe cortando a língua do velho e gritando “Está doendo a linguinha, né Robervalzinho?”.

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